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O “Não” de Mascarenhas Monteiro  Foi Manchete na Imprensa Australiana


A desistência de Mascarenhas Monteiro em aceitar o cargo de representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, para Timor Leste foi tema de manchete em alguns dos jornais australianos de grande circulação.

Num artigo assinado por Lindsay Murdoch, o jornal “Sidney Morning” começa por considerar o “Não” de Mascarenhas Monteiro como um revés para os planos da ONU no sentido da estabilização de Timor Leste, palco de vários meses de violência.

Aquele jornal revela, no mesmo artigo, que alguns sectores da liderança política timorense não teriam, inclusive, visto com bons olhos a designação do antigo presidente de Cabo Verde para o cargo devido, em parte, à percepção de que Mascarenhas Monteiro poderia favorecer os interesses próximos de países lusófonos, nomeadamente da antiga potência colonial do território, Portugal, para além de Angola e Moçambique.

Moçambique, recorde-se, foi país de exílio Mari Alkatiri durante a ocupação indonésia do território e que, de acordo com alguns sectores políticos timorenses, servirá de modelo de inspiração às políticas do deposto primeiro-ministro.

Mas, a razão de fundo encontrada por aquele jornal para as «reservas» levantadas por parte de alguns dos implicados no processo timorense, à nomeação do antigo presidente de Cabo Verde para a coordenação das operações da ONU em Dili, reside na particularidade de António Mascarenhas Monteiro não dominar o inglês, língua de trabalho da ONU naquela antiga possessão colonial de Portugal e da franja dos falantes da língua portuguesa ser ínfima em Timor Leste.

Aliás, esta tese é retomada pelo jornal “The Australian”, num artigo de Mark Dodd, que vai mais além e adianta, citando fontes diplomáticas, que o próprio presidente timorense Xanana Gusmao teria manifestado uma certa preocupação a propósito da personalidade escolhida para substituir o representante cessante do secretario-geral da ONU, o japonês Sukehiro Hasegawa.

Diga-se, uma percepção que contraria a do actual primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, que, confrontado com a recusa do antigo presidente cabo-verdiano em aceitar o convite de Kofi Annan para o representar em Díli, a considerou “de uma grande perda para Timor Leste”.

Mas, de acordo, com aquele jornal, ninguém na sede da ONU em Nova Iorque, incluindo o secretário-geral adjunto para as Operações de Manutenção de Paz das Nações Unidas, o francês Jean-Marie Gueheno, ter- se-ia preocupado se Mascarenhas Monteiro se expressava na língua inglesa.

Quando se tornou evidente que não - revela aquele jornal -surgiram as primeiras reservas à indigitação do antigo chefe de Estado cabo-verdiano para o cargo.

Recorde-se que Mascarenhas Monteiro convocou recentemente a imprensa, na capital cabo-verdiana, para anunciar as razões que o levaram a declinar o convite que lhe foi dirigido por Kofi Annan.

À imprensa, Mascarenhas Monteiro revelou ter tido conhecimento das alegadas reservas à sua indigitação para o cargo, num telefonema do secretário-geral adjunto da ONU para as Operações de Manutenção de Paz, Jean Marie Gueheno.

Na altura, Gueheno teria pedido ao antigo presidente cabo-verdiano, mais algum tempo para que a ONU pudesse resolver pequenos problemas, entretanto não especificados, que teriam surgido devido à nomeação.

Coube, entretanto, ao actual presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, em declarações à imprensa, no fim de uma audiência concedida aquele antigo chefe de Estado cabo-verdiano, identificar, ainda que de forma implícita, a Austrália como foco das resistências à nomeação de Mascarenhas Monteiro para o cargo.

Saliente-se que o desempenho de Sukehiro Hasegawa em Timor Leste vinha sendo fortemente contestada pelos Estados Unidos, Austrália e Grã Bretanha, que acusam o cessante representante do secretário-geral da ONU de não ter feito o suficiente para prevenir a onda de violência que abalou Timor Leste, em Abril último.



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