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A Influência dos “Lobbies” Pró-Israel nos EUA


Recentemente dois proeminentes académicos americanos publicaram os resultados de um estudos versando os estreitos laços entre os Estados Unidos e Israel, pesquisas essas que acabaram por suscitar um animado e aceso debate em redor da suposta influencia que Israel tem tido na política externa dos Estados Unidos.

Convenhamos um assunto da actualidade mundial, cuja abordagem justifica-se pelos últimos acontecimentos no Médio Oriente, com Washington a ser acusado pelo mundo árabe, de assumir e de forma aberta, posições do pró-Israel no conflito na região.

John Marshaimer, professor da Universidade de Chicago e Sthepen Walt, da Universidade de Harvard, expuseram recentemente e num estudo, o que entendem ser a influência de um poderoso “lobby” israelita na política dos Estados Unidos para o Médio Oriente.

Num estudo bem documentado, mas ao mesmo tempo controverso, originalmente publicado pela “London Review of Books” no início do ano, os dois académicos argumentam que um bem organizado “lobby” israelita tem conseguido moldar as legislações emanadas do congresso e as próprias decisões presidenciais, envolvendo Israel.

O professor Sthepen Walt realça, a propósito, que nem sempre as opções reflectiram os interesse dos Estados Unidos. Mas ouçamos a propósito aquele académico: “Nós os dois, começamos a pensar um pouco mais nisto, na sequência dos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, quando descobrimos, a semelhança de muitos americanos, que a política externa americana para a região necessitava ser reformulada. E começamos assim a concentrar a nossa atenção nas forcas políticas nos Estados Unidos que dificultavam a América a seguir, o que achamos dever ser os nossos interesses nacionais básicos, para essa região do mundo”.

Tanto o professor Sthepen Walt como o professor Marshaimer definem o “lobby” pró-Israel, como uma coligação de individualidades e grupos pró Israel, não necessariamente judeus: “A agenda do Comité dos Assuntos Públicos Israelo-Americanos é a de assegurar que nada interfira com o apoio americano a Israel. Independentemente do comportamento de Israel, eles trabalham para assegurar os multi-milhões de dólares em assistência concedidos anualmente pelos Estados Unidos a Israel. Isso envolve igualmente o afunilamento de contribuições e financiamentos para as campanhas dos congressistas tidos com posições próximas ou ainda o afunilamento de financiamentos destinados a campanhas para destronar os congressistas que entendem ser indesejáveis na afirmação das suas causas. E têm sido extremamente eficazes, bem financiados, mas sobretudo bem organizados e severos”.

Como resultado, diz o professor Walt, o governo dos Estados Unidos garante a Israel uma ajuda anual calculada em cerca de três mil milhões de dólares, por sinal a maior soma jamais atribuída a uma nação no mundo isto para além do apoio diplomático na crise com os palestinianos e dos demais países do Médio Oriente.

Mas, algumas organizações judaicas, nomeadamente a Liga Anti-Difamação, com sede em Nova Iorque, contra argumenta e alega que essa estreita relação com Israel, acaba também por servir os próprios interesses nacionais dos Estados Unidos..

E evocam, a propósito, o apoio alargado da opinião pública americana a Israel.

Para este grupo, a assunção de que o “lobby” pró Israel acaba por influenciar e de forma determinante os legisladores americanos não passa de um esforço para iligitimar o trabalho e o empenho dos apoiantes de Israel.

Abraham Fox, é director nacional da Liga Anti Difamação: “O que aconteceu nos anos 50 e 60, foi que o povo americano, numa base bipartidária, apesar de não concordarem com tudo, apoiavam o Estado de Israel pelo seu processo democrático, pelos seus valores ocidentais. Acreditar que essa visão foi criada por um grupo de judeus, que controlam alguns elementos no congresso americano, o governo e os mídias, é aburdo”

Para Abraham Fox, o Comité Público para os Assuntos Israelo-Americanos acaba por funcionar como qualquer outro qualquer “lobby” estrangeiro no país: “Operam como qualquer outro “lobby” .Declaram as suas finanças, têm sessões públicas, falam com os congressistas e membros da administração americana. Isso é próprio da América ! Temos lobistas para todos os assuntos e não vejo nada sinistro nisso.”

Morton Klein, presidente da Organização Sionista da América, por sinal o mais antigo grupo de “lobby” pró Israel nos Estados Unidos, fundado em 1897, vai mais além e alega que os apoiantes de Israel não são assim poderosos tal como apregoam os professores Mersheimer e Walt: “O “lobby” pró Israel falhou nos dez últimos anos em muitos casos. Falhou em conseguir que o embaixador dos Estados Unidos fosse transferido para Jerusalém; falhou em pôr cobro ao roteiro de paz para o Médio Oriente, que pensamos ferir tanto a América como Israel; não foi capaz de evitar que a América condenasse, em 1981, o ataque israelita, contra o reactor nuclear do Iraque da era de Saddam Hussein. No fundo, estou decepcionado com o facto da América não ter apoiado Israel no seu direito de usar todos os meios necessários para defender o seu povo. Portanto, a política externa americana continua a estar assente naquilo que Washington pensa ser melhor para o país”.

Mas, muitos analistas acreditam na existência de um fundo de verdade nos argumentos apresentados pelos professores Walt e Mearsheimere.

É o caso, por sinal, de Tony Judt, historiador da Universidade de Nova Iorque, que defende que nem sempre as actividades lobistas foram ao encontro dos interesses de Israel: “O tipo de silêncio, que esse “lobby” impõe na América a diminuta crítica interna, mesmo quando se está perante aspectos que a América oficialmente desaprova, como foi, por exemplo, o caso dos colonatos dos territórios ocupados. E isso é mau para América por que faz dele um apoiante incondicional de Israel nas questões internacionais. É igualmente mau para Israel. Existem muitos israelitas que são críticos das várias posições que o seu governo assume, mas estão à partida manietados pelo facto do seu governo alegar: vejam, fizemos isto e os americanos não se importaram, pelo contrário, aprovaram. Portanto, porquê dar ouvidos às críticas internas?”

De acordo com o historiador Tony Judt , qualquer intenso e frequente ataque contra os lobbies acaba por ter um efeito directo no discurso público: “A razão porque muitos dos assuntos abordados pelos professores Marsheimer e Walt e que outras pessoas têm levantado acabam por não ter a projecção que merecem, tem a haver, penso eu, embora exagerado, com um medo real de em ser-se rotulado anti-Israel. E se for rotulado de anti-Israel você será, consequentemente, considerado anti-judeu”.

Tony Judt relembra entretanto que toda a cândida e aberta discussão acerca dos vários assuntos e factores que envolvem a política externa dos Estados Unidos fazem parte integral da democracia americana, daí que seja natural esperar que mais episódios do debate despoletado pelo estudo dos professores Stephen Walt da Universidade de Harvard e John Mrashaimer, venham a acontecer.

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