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Inteligência Externa Espremida por Dentro


Pela primeira vez em 10 anos, foi suspensa toda correspondência entre os oficiais de inteligência no exterior, e a unidade central em Luanda, soube a Voz da América de fonte oficial. O único contacto nos últimos dias entre Luanda e os postos de inteligência nas missões diplomáticas, aconteceu na segunda-feira quando os chefes destes postos foram convocados para uma reunião na capital angolana. Neste momento estão a caminho de Luanda mais de 50 funcionários da secreta angolana.

A reunião deverá ter lugar durante todo o fim de semana, e será presidida pelo general Hélder Viera Dias, “Kopelipa”, chefe da Casa Militar, e director geral interino dos serviços de inteligência externa. Fontes dos serviços de inteligência em Angola, e no estrangeiro, disseram à Voz da América que os funcionários tinham sido convocados apenas para receberem esclarecimentos. Entretanto as mesmas fontes dizem que este encontro poderá abrir caminho à reestruturação de toda segurança externa, incluindo do GABEST, gabinete de estudos, nome virtual porque eram tratados os postos da segurança no estrangeiro.

A alteração do “modus operandi” dos serviços de segurança externa aconteceu perto da meia noite da sexta-feira passada, ou seja na mesma altura em que chegava à rádio nacional de Angola o despacho presidencial que ditava a exoneração de Fernando Miala ,do posto de director geral da segurança externa.

Acto contínuo, unidades da guarda presidencial, instruídas pelo general Hélder Vieira Dias “Kopelipa” avançaram discretamente para a chamada oficina operativa da segurança externa, localizada no Futungo de Belas, antigo palácio presidencial. No sábado de manhã, ninguém foi autorizado a entrar, e os chefes viram-se desposados das suas chaves. A chamada oficina operativa continua isolada até hoje. A Voz da América soube de boa fonte que a mesma está a ser sujeita a uma rigorosa vistoria, parte da sindicância instaurada por José Eduardo dos Santos.

O general Miala que entretanto deveria viajar para o Congo Kinshasa na sexta-feira, viu a viagem cancelada. No seu lugar seguiu o general António dos Santos França, ‘Ndalu’, antigo embaixador de Angola nos Estados Unidos da América.

Ainda assim, Miala e os seus principais assessores só tomaram as suas demissões como parte de um problema grave, após a publicação na segunda-feira, de um despacho de José Eduardo dos Santos ordenando uma sindicância aos serviços de inteligência externa.

Por detrás desta sindicância estariam decisões do general Miala que teriam comprometido a autoridade do Presidente da República e o desempenho das suas funções de chefe de estado.

O general Miala é citado como tendo sonegado informação ao presidente, e de ter resistido a reestruturações que o mesmo pretendia fazer no sector de inteligência. Fernando Miala teria também manipulado informação que fazia chegar ao presidente de Angola.

Como resultado disso Miala teria conseguido entre outras coisas , sobrepor a segurança externa, à segurança interna.

O ex-chefe da inteligência externa de Angola deverá responder também por um alegado abuso de fundos públicos colocados à sua disposição, pela banca, Sonangol, e pelo sector diamantífero. Miala teria usado injustificadamente mais 40 milhões de dólares num período inferior a 4 anos.

Estes gastos foram o ‘leit-motiv “para uma reunião de emergência realizada em Junho passado em Luanda , em que tomaram parte o presidente José Eduardo dos Santos, o chefe da Casa Militar , general ”Kopelipa”, os membros da equipa económica, o director Geral da SONANGOL, Manuel Vicente, e Fernando Miala.

Este aparentemente não terá conseguido justificar o volume de gastos tendo o presidente a recomendado a adopção de novas normas na libertação de fundos para a segurança externa. José Eduardo dos Santos disse na altura que os gastos não correspondiam ao volume e à qualidade de trabalho apresentado por Fernando Miala.

Esta reunião viria a ditar a perda de cotação de Fernando Miala. As audiências com o Presidente da Republica passaram então a ser mais esporadicas..”Muito esporádicas mesmo”, acentuou uma fonte.

O alegado uso abusivo de fundos foi a partir de então cada vez mais associado ao crescendo de projectos sociais que tinham a assinatura do General Miala. Conta-se entre os projectos, patrocínios a artistas, jornalistas e o lançamento de um movimento filantrópico de apoio a crianças desamparadas do Kuíto.

Fonte próxima a este dossier disse que Fernando Miala convertido alguns postos de inteligência nas embaixadas e consulados, em unidades de apoio aos seus projectos sociais.

Funcionários angolanos disseram à Voz da América que em determinados momentos a actividade de Miala rivalizava com a agenda social do Presidente. “Da mesma forma como o presidente se vinculou a uma associação de bairro, a do Sambizanga, Miala juntou-se a outra, a do Rangel, repetindo o mesmo comportamento em relação à FESA que se viu disputar alguns espaço com o projecto Criança Futuro”.

Estes projectos, e uma alegada excessiva exposição do antigo chefe da secreta, são outras das fontes dos problemas que foram corroendo a sua influência. Contra a vontade de José Eduardo dos Santos, Miala teria concorrido à vice-presidência dos serviços secretos africanos, num processo que além de produzir alguma exposição, lhe pôs em contacto instituições similares de outros países.

Miala terá também criado antipatia nos sectores castrenses pois é tido como tendo bloqueado processos de promoção de altos oficiais das forças armadas. A Voz da América vem tentando ouvir Fernando Miala, no que não tem sido bem sucedida.

Fonte bem informada disse a esta estação emissora que Fernando Miala e os seus principais assistentes estão com os movimentos limitados.

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