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Agravam-se Tensões na Região do Delta do Níger


Tem havido uma série de ataques contra várias companhias petrolíferas que operam na região do Delta, na Nigéria. Os recentes ataques apenas sublinham o clima de décadas de tensão entre os cidadãos nigerianos, o governo e as companhias multinacionais que transformaram a Nigéria no maior produtor africano de petróleo.

As grandes quantidades de petróleo existentes no delta do rio Níger não se traduziram pela estabilidade e pela prosperidade para os povos que lá vivem. Antony Goldman, um analista de questões africanas da empresa Clearwater Research, afirmou-nos que muitos habitantes da zona não estão satisfeitos:” Os habitantes da região do delta queixam-se de que os recursos provenientes da extracção de petróleo não estão a ser suficientemente aplicados na região. Eles acham que os estados deviam beneficiar mais proporcionalmente dos rendimentos do petróleo. Para além disso, questionam a aplicação dos fundos que a zona do Delta recebeu.”

Os rendimentos do petróleo não beneficiaram os sectores básicos das localidades através da região. Uma zona que precisa urgentemente de melhores escolas, estradas e hospitais. Ao longo dos anos, a tensão deu origem à violência com o aparecimento de vários grupos armados de base étnica exigindo aquilo que consideram ser a sua quota parte. As suas tácticas incluem o rapto de trabalhadores de empresas petrolíferas , a tomada de assalto de plataformas de exploração de petróleo e o desvio de petróleo dos oleodutos para venda no mercado paralelo. De acordo com Tunde Martins, um especialista na região do Delta, muitos daqueles que estão a recorrer à violência não estão a fazê-lo em nome do cidadão comum. Diz Tunde Martins: ”O dinheiro não chega aos mais pobres visto que estas exigências não estão organizadas. Os grupos decidem o que fazer em cima do joelho. Precisam de dinheiro num determinado momento e decidem raptar trabalhadores petrolíferos para exigirem resgates. Não são propriamente militantes a lutarem pelos direitos do seu povo. São grupos de bandidos que não estão a usar esse dinheiro para melhorar as condições de vida dos seus concidadãos.”

Quando se verificam ataques contra instalações petrolíferas na região do Delta, o governo nigeriano envia normalmente forças de segurança com a missão de diminuir a violência. No entanto segundo Ulrika Sandberg, uma especialista em África da organização de defesa dos direitos humanos, Amnistia Internacional, afirma que na maior parte dos casos essas forças acabam por violar os direitos dos habitantes da zona. Afirma Sadnberg: ”Muitas das vezes, as forças de segurança recorrem a força excessiva. Por exemplo, em Fevereiro do ano passado, registamos 2 casos nos quais as forças de segurança usaram força excessiva. Num dos casos pelo menos 17 pessoas morreram numa operação em que as forças de segurança tentavam deter um ou dois criminosos.”

Sandberg acusa as forças de segurança nigerianas de agirem com impunidade afirmando que quando se realizam investigações raramente os responsáveis são levados à justiça. Aquela funcionária da Amnistia Internacional que se reuniu com habitantes da região, activistas e forças de segurança, afirmou-nos que a crise permanece naquela região apesar do termo do regime militar em 1999. Segundo ela o petróleo desempenha um papel primordial.

”Deparamo-nos com uma situação onde ainda temos injustiça, violência e violações dos direitos humanos cometidas numa região onde o petróleo está a ser extraído e produzido., diz Sandberg, para concluir: Claro está que o petróleo é parte da equação da alta tensão e da elevada violência na região do delta.”

Contudo para o analista Tunde Martins têm-se registado progressos. Acrescentou que o governo nigeriano e as companhias petrolíferas têm tentado compensar os habitantes da zona: ” Apesar de não terem sido capazes de responder a todas as necessidades e exigências das comunidades, o governo nigeriano tem vindo a responder a muitas delas através da Corporação para o Desenvolvimento do Delta do Niger que foi criada para garantir benefícios sociais e instalações para os povos do delta. Por outro lado, as companhias petrolíferas multinacionais têm contribuído tanto com dinheiro como com apoio humanitário para aquelas populações.”

No entanto, o analista Antony Goldman afirma que as actuais tentativas para responder às preocupações das comunidades desfavorecidas ainda estão muito longe daquilo que é necessário . Salienta também que as companhias petrolíferas reconheceram elas próprias que projectos passados acabaram por degenerar em mais violência com grupos rivais competindo pelo dinheiro. Refere, contudo, que as companhias petrolíferas estão agora cientes de que têm que encontrar modos mais produtivos de lidar com o problema:

” Não tem nada a ver com altruísmo. Acho que as companhias concluíram que para garantirem os seus interesses a longo-prazo precisam de encontrar um modo mais eficaz para operar no Delta do Niger. O que isso quer dizer é que têm que encontrar maneiras de cativarem os grupos e as comunidades que lhes têm dificultado a vida destruindo-lhes instalações, roubando os seus produtos e ameaçando os seus empregados.”

Essa análise tem, com efeito, bases sólidas. Os recentes ataques na região do delta do Niger reduziram a produção de petróleo da Nigéria entre oito a dez por cento.

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