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A capital comercial da Costa do Marfim permanece tensa


Numa entrevista concedida no sábado à Radio France Internationale, o antigo chefe de estado maior das forças armadas da Costa do Marfim, Mathias Doue, disse que Laurent Gbagbo deve abandonar a presidência e que se a comunidade internacional não quiser fazê-lo pacificamente, ele vai forçá-lo por todos os meios possíveis, acrescentando que regressaria ao país nos próximos dias.

Desde então, a capital comercial da Costa do Marfim permanece tensa. Um fogo de artificio durante um festival no sábado à noite foi tido pelos residentes da cidade como sendo um tiroteio, ou o inicio de uma tentativa de golpe.

O General Philippe Mangou, sucessor de Mathias Doue no posto, respondeu às declarações do seu predecessor na entrevista à Radio France Internationale, afirmando que as forças armadas permanecem leais aos valores republicanos. O militar costamarfinense disse ainda aos jornalistas na quarta-feira que os meios da comunicação social devem apoiar as instituições legalmente postas ao serviço da nação.

As Nações Unidas que mantêm uma missão de paz no país dividido pela guerra, emitiu esta semana um comunicado em que afirma que qualquer incitamento ao ódio e à intolerância, ou tentativas para bloquear o processo de paz, poderiam conduzir o Conselho de Segurança a impor sanções.

Os rebeldes das Forças Novas, que controlam o norte da Costa do Marfim, apoiam as ameaças do General Doue. Sidiki Konate, portavoz do grupo, disse que uma vez que o Presidente Gbagbo abandonar o cargo, o país poderá realizar eleições justas e livres.

’...se o objectivo principal é forçar Laurent Gbagbo ...obrigá-lo a abandonar o poder ...e expulsá-lo da Costa do Marfim...eu concordo...’

No entanto, o analista Chris Melville, do grupo de pesquisa ”Visão Global”, disse não estar certo se Doue tem o apoio das forças armadas para levar a cabo a sua ameaça, e que quando Doue foi expulso das forças armadas, em 2004,foram expulsos também depois dele outros oficiais que lhe pudessem servir de apoio.

’....muitos oficiais que pudessem simpatizar por uma causa por mais moderada que fosse como a sua, foram afastados dos seus postos, substituídos por outros com influencias operacionais directamente sob a supervisão do regime e do Presidente Gbagbo.... ‘

O analista disse ser de estranhar a entrevista na Radio France Internationale, dado o facto do antigo chefe das forças armadas marfinenses ter sido anteriormente considerado como um político cauteloso sem quaisquer indícios de sensacionalismo ou drama.

Por sua vez, o analista oeste-africano, do ”Grupo Crise”, Mike McGovern, concorda, afirmando ser estranho que alguém anuncie um golpe militar antes da sua realização. Afirmou McGovern que o anuncio poderia ser uma tentativa para chamar a atenção da comunidade internacional por forma a que esta compreenda a seriedade da situação na Costa do Marfim, que se está a tornar muito frágil.

McGovern disse não acreditar nos boatos segundo os quais Doue poderia receber apoio da França ou de quaisquer outros países na região.

’...sou de opinião que alguma coisa desse tamanho e amplitude, poderia conduzir a muitos morticínios em Abidjan, e possivelmente também noutras zonas leais a Gbagbo do sul do país. Se isso acontecesse, certamente tanto a missão das Nações Unidas como os Franceses, na Costa do Marfim, seriam acusados do evento. Para mim está claro que isso não serviria os interesses de qualquer das partes...’

A ameaça de Mathias Doue acontece na altura em que se espera que o país se prepare para as eleições de Outubro próximo, empenhando-se no desarmamento e desmobilização. Um dos candidatos mais cotados, Henri Konan Bedie, cancelou o seu regresso à Costa do Marfim na quarta-feira, receando o golpe de estado.

Entretanto, foi ignorado mais um prazo de desarmamento para as três milícias mais importantes na zona oeste do país. Numa entrevista anterior à Voz da América, um dos lideres milicianos, Dennis Maho Gohefi, disse que a ameaça de Doue intensificou as preocupações de segurança na Costa do Marfim, pondo em segundo lugar a questão do desarmamento.

A actual crise na Costa do Marfim começou em 2002,quando fracassou uma tentativa de golpe de estado pelos militares do norte, se transformando em guerra civil.

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