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Honrar as prestações mínimas da dívida do Zimbabwe


Há mais de um mês que o presidente Robert Mugabe tenta obter um empréstimo de cerca de mil milhões de dólares para honrar as prestações mínimas da dívida do Zimbabwe, financiar produtos alimentares e agrícolas e comprar combustível.

No mês passado, a África do Sul disse que ia considerar fornecer uma linha de credito ao Zimbabwe, mas juntou a oferta varias condições políticas e económicas. Mugabe recusou os termos e virou-se para a China que acabou por lhe recusar dar a assistência pretendida.

No mínimo, o Zimbabwe necessita de pagar 50 milhões de dólares ao FMI para evitar a expulsão, quando a organização financeira se reunir nas próximas semanas para rever o estatuto do país. O Zimbabwe deve presentemente ao FMI qualquer coisa como 295 milhões de dólares.

Esta semana, emissários de Mugabe foram a África do Sul. O porta-voz do governo sul-africano em Pretória, Joel NETSHITENZHE, afirmou que Mugabe poderá conseguir cerca de 10 por cento dos mil milhões de dólares que pretende. Um outro funcionário sul-africano, que pediu o anonimato, disse que a assistência será concedida em troca de um empenhamento para reformas constitucionais, negociações com a oposição e a restauração do primado da lei. Para alem disso, segundo o mesmo funcionário, o ministro sul-africano das Finanças, Trevor Manuel, quer que o Zimbabue implemente um plano de recuperação económica que seja sustentável em longo prazo.

Funcionários sul-africanos não confirmaram publicamente essas condições, afirmando apenas que qualquer assistência deve ir junto com “recuperação económica” e “normalização política” e que os negócios da África do Sul com outros países não são baseadas em condições.

Em privado contudo, funcionários governamentais expressaram algum optimismo de que a África do Sul poderá agora ter alguma influencia sobre os desenvolvimentos no Zimbabwe. A África do Sul tem sido alvo de criticas por não dar ouvidos as preocupações internacionais sobre o declínio económico e a situação dos direitos humanos do seu vizinho.

No entanto, poderá ser difícil convencer Mugabe a aceitar as condições da África do Sul. Nas ultimas semanas Mugabe tem dito com frequência que não aceita qualquer assistência que venha com condições. E recusou pedir ajuda alimentar ao PAM, que cerca de quatro milhões de zimbabueanos esperam receber no inicio do próximo ano.

O analista político John Stremlau, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, afirmou que o presidente Mugabe ira provavelmente continuar a resistir enquanto puder as investidas da Afica do Sul para mudanças no seu país.

“Julgo que nenhum de nós pode prever se Mugabe está preparado, ou não, para comprometer as suas políticas que tem levantado preocupações internacionais. O interesse central da África do Sul tem sido o de promover um governo de unidade nacional, que permita a Mugabe afastar-se, e contribua para o aparecimento de uma nova liderança. Penso que é isso que está por detrás deste regateio todo sobre o empréstimo.”

O economista zimbabueano Tony Hawkins diz que mesmo que a África do Sul emprestasse ao Zimbabue todo o montante que deseja, os benefícios não iriam durar muito.

“Penso que não irá ter grande efeito como alguns sugerem. Este ano parece que o Zimbabwe vai liderar o déficit da balança de pagamentos na região com um montante entre os 700 milhões e os mil milhões de dólares. Se o empréstimo fosse materializado, na sua maioria seria usado no primeiro trimestre do próximo ano.

Nos últimos seis anos, a economia do Zimbabwe diminuiu 40 por cento e o desemprego no sector formal subiu um terço. O professor Hawkins afirma que os efeitos vão-se sentir em longo prazo.

'As pessoas estão obviamente muito mais pobres do que eram. Muita mão de obra especializada abandonou o país, tanto branca como negra. Muitas companhias estrangeiras mudaram-se para outros países. Não houve praticamente investimento nenhum desde 2000. Assiste-se a uma deterioração das infra-estruturas, desde a iluminação publica até aos telefones, caminhos de ferro e aviões, passando pelo sistema de esgotos e as habitações.”

O Banco Mundial estima que ate a recente campanha do governo zimbabueano de recolocar dezenas de milhar de pessoas de suas casas e negócios urbanos, o sector informal, ou o mercado paralelo, representava 60 por cento da economia do Zimbabwe. Hawkins diz que as perdas do sector informal, de que o governo chama de uma operação de limpeza, afectou os fornecedores na economia formal. Mas disse que os efeitos reais têm recaído naquelas pessoas que faziam magros lucros vendendo nas ruas ou através de micro-negocios.

O professor Hawkins disse que mesmo que o Zimbabwe aceite implementar as condições estabelecidas pela África do Sul, a recuperação em longo prazo da economia do Zimbabwe será muita lenta e levará pelo menos uma década para a economia começar a voltar a crescer.

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