Links de Acesso

O ano da chamada Linha da Demarcação


A guerra de 1812 teve como a sua primeira fase a outra guerra com os índios do noroeste, do vale do Ohio e terras vizinhas ao sul do Canadá inglês, onde por isso mesmo a acção inglesa se tinha tornado também mais notória, desde 1763, o ano da chamada Linha da Demarcação imposta pela Inglaterra aos colonos da costa depois da conquista do Canadá.

Tomé Mbuia-João : Democracia Americana - Os Primeiros 45 Anos

Dizíamos na conversa passada que o que os Americanos chamavam a sua fronteira - o oeste - tornara-se na epopeia nacional, de contos e feitos, heróis e rufiões, brancos, negros (não só) mas também índios, para sempre inscritos nos anais da história da nação americana, este foi também, dizíamos ainda, o panorama da guerra de 1812 com a Inglaterra, mas com os índios, primeiro, que se diziam ser os protegidos da Inglaterra - e coniventes de varias formas - contra o avanço das sucessivas vagas da costa para o interior.

Recuando um pouco no tempo, já desde 1763 existia o pressentimento de que cedo ou tarde uma faísca imprudente iria precipitar americanos, ingleses e índios, num delírio armado pela primazia nestas terras da fronteira, terras do oeste ao sul do Canadá.

O facto é que naquele ano de 1763, a Inglaterra vitoriosa da grande guerra de império, acabara por arrancar à França a sua colónia canadense delimitando logo a seguir uma fronteira neste caso no sentido politicamente literal entre as suas treze colónias da costa atlântica, e a nova colónia do Canadá, uma demarcação muito mal interpretada por estes colonos da costa que ambicionavam as terras do interior, até ao Canadá. O segundo intervalo em que se consolidou esta animosidade foi aquando da aquisição da Louisiana em 1803. Sempre a França ...

A França que perdeu à Inglaterra o Canadá em 1763, vendeu à América a Louisiana em 1803, intensificando nos dois casos o mal-estar entre a Inglaterra e as ex-colonias. Em 1803 governava esta América o presidente filósofo da Virgínia, Thomas Jefferson, a quem muito interessava expandir o território nacional naquela mesma direcção proibida pela Inglaterra em1763.

A democracia para Jefferson era uma sociedade de agricultores pegados à terra - puros e soltos - livres das injustiças e intemperâncias aquisitivas das sociedades comerciais da costa e industriais do norte até da própria Inglaterra. Foi por isso que comprou a Louisiana para expandir a sua América, a América que sonhou que haveria de se consolidar nos estados do sul e nos novos territórios ainda por ocupar. Mas os índios daquelas terras? Jefferson não tinha muita resposta boa para esta pergunta. Os outros depois dele seriam mais radicais. Mas ele, o humanista, enviou-lhes primeiro missionários a ver o que saía. Não deu muito. Os Índios tinham entendido o dilema. Acomodar-se, resistir ou desaparecer.

Os mais afectados nas terras onde foram surgindo novos estados pelos colonos da costa, o Kentucky para começar (1796) mais que vieram, o Missouri, o Ohio, o Illinois e outros até aos Grandes Lagos - esses índios decidiram resistir. A guerra de 1812. Veremos quem a travou : presidentes, vencidos e heróis; americanos, ingleses e índios, também estes. Para não esquecer. Falaremos ainda de Jefferson e James Madison, seu discípulo e sucessor na presidência em 1808.

Falaremos de William Henry Harrison, o general vencedor da guerra da resistência índia. Não iremos esquecer os seus adversários, entre os mais renhidos, o general índio Tecumseh, que ganhou para si um capítulo de gloria de adversário para não esquecer, na historia das guerras do oeste. Falaremos também de Tenskwatawa, seu irmão, o chamado feiticeiro da guerra da resistência índia no Ohio. É verdade. Feiticeiro da guerra. Havia também disto. Um Shaka Zulu, Gungunhana ou Samori não fariam menos no século da ocupação das suas terras por outros de fora na África do seu tempo.

XS
SM
MD
LG