Washington, acolheu recentemente uma conferencia organizada pelo Banco Mundial e destinada à apresentação e análise do recém anunciada estratégia de engajamento político e financeiro daquela instituição financeira internacional com os programas de combate à Malária em África e na Ásia.
Com fundos na ordem dos quinhentos a mil milhões de dólares americanos, a nova estrategia do Banco Mundial terá uma duração de cinco anos e por propósito a expansão dos mecanismos de tratamento e de prevenção da doença no continente africano e asiático, responsável de acordo com números da Organização Mundial de Saúde, OMS, pela morte de mais de um milhão de pessoas anualmente.
Entre outras participações, a conferencia, contou com a presença da responsável pela Unidade da Luta Contra o Paludismo da sede regional da Organização Mundial de Saúde para a África, em Harare, Zimbabwe, a médica guineese, Magda Nelly, que em entrevista à VOA, conduzida pelo Nelson Herbert, traçou o quadro da endemicidade da Malária em África.
P: O mais recente relatório conjunto, da Organização Mundial de Saúde, OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infancia, UNICEF revela que ser cada vez maior maior o número de pessoas com acesso ao tratamento e aos mecanismos de prevenção da Malária no mundo, o que pressupõe que o número de casos de morte pela doença tem estado igualmente a decrescer. Mas, ao que tudo indica, essa não pelo menos a realidade em África ?
Dra Magda Nelly: A situação da Malária em África continua a ser preocupante, na medida em que a doença continua a ser uma das principais causas da mortalidade infantil, sobretudo entre as crianças com menos de cinco anos de idade. Neste momento, os medicamentos que existem para o tratamento da doença, pelos preços praticados, estão praticamente fora do alcance da maior parte das populações e muitos países do continente ainda não tiveram acesso a esses mesmos medicamentos.
P: É obvio que existirão, decerto, países do continente com um maior ou menor empenho no combate da doença. Concretamente, em que países ou regiões de África, a situação pode ser considerada de dramática ?
Dra Magda Nelly: Penso que, de uma maneira geral, entre os países endémicos que são, ao todo, cerca de 43 na região africana da OMS, não se pode dizer que, neste a situação, é mais grave do que na outra. É evidente que a eficácia e a funcionalidade dos sistemas de saúde variam de país para país, de região para região e quanto a própria capacidade de resposta ao problema da Malária. Mas, onde realmente enfrentamos maiores dificuldades, é nos países onde não existe estabilidade política, países em guerra ou saídos de conflitos e onde, como se sabe, os sistemas de saúde foram fortemente afectados pelos conflitos ou catástrofes naturais. Nestes casos, naturalmente a mortalidade devido à Malária é bem mais elevada. O problema dos recursos humanos e de ausencia de programas de combate a Malária financiados pelos governos locais, impõem-se igualmente como obstáculos ao éxito do combate da doença em algumas regiões e países de África.
P: Falando concretamente dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa. Haverá algum de fora dessa lista de 43 países considerados endémicos pela OMS ?
Dra Magda Nelly: Cabo Verde é o unico país africano de língua oficial portuguesa que não tem um problema sério em termos de endemicidade da Malária. O problema, diria ,está confinado apenas à Ilha do Sal e num pequeno foco bem identificado. Agora, Angola Mocambique, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe são países extremamente endémicos com sistemas de saúde extremamente debéis. Angola saiu recentemente de uma guerra civil, a Guiné Bissau enfrenta também uma situação periclitante. Moçambique e um país vasto em recuperação de uma guerra civil de vários anos. De uma maneira ou outra, o problema e sério nesses quatro países africanos de língua oficial portuguesa. E os governos locais não reunem, por enquanto, capacidades a uma resposta adequada ao desafio.
P: Mas, este quadro alarmante da Malária como a principal causa de mortes em África, sobretudo a nível das crianças contrasta, por assim dizer, com os montantes financeiros postos à disposicao pelas organizações internacionais e potenciais mundiais para o combate da doença... isto se comparado, por exemplo, com os fundos disponibilizados para o combate da Hiv-Sida ?
Dra Magda Nelly: Exactamente ! A luta contra a Malária tem se debatido infelizmente com um problema de financiamento que se tem tentado resolver a nível global. É certo que, nos últimos cinco anos, houve por assim dizer uma duplicação do fundos destinados aos programas de luta contra a Malaria, mas continua a estar muito aquém da dimensão dos desafios que se nos apresenta. Comparado com o programa de combate do Hiv-Sida, a Malária esta longe, em termos de financiamentos, isto embora saibamos que os fundos disponibilizados para o combate da Sida não são igualmente suficientes para se fazer face aos e perigos que ele representa para o mundo no seu todo.
P: Neste caso, até que ponto o recém anunciado envolvimento financeiro do Banco Mundial no combate da Malária em África e em algumas outras regiões do planeta, pode em certa medida vir a dar um novo ímpeto nos programas de combate da doença em África ?
Dra Magda Nelly : O Banco Mundial, de ipso, fez o lançamento no passado dia 25 de Abril, que é o dia da luta contra a Malária em África, do seu novo plano, da sua nova estratégia da luta contra a Malária, que diria representa um demonstração do engajamento político daquela instituição financeira mundial na luta contra a doença . Recorde-se que o Banco Mundial e um dos signatários da Declaração de Abuja e um dos parceiros da campanha de redução do paludismo como e conhecido mundialmente e até agora o Banco Mundial nao se tinha ainda envolvido financeiramente na luta contra a Malária. Eles apresentaram agora um plano, uma estratégia que em princípio deverá ser implementado num certo número de países africanos. Aguardemos para ver os resultados.
P: E acredita que esse programa poderá marcar, doravante, a diferença no combate da Malária, neste caso concreto em África ?
Dra Magda Nelly: Se a burocracia for controlada, sim ! Se for possível agilizar os mecanismos de desbloqueamento dos financiamentos eu penso que poderemos acreditar ser possível implementar os programas. Mas, repito, não basta o anúncio de engajamento político, do lançamento de estratégias, isso tudo não é suficiente só por si. O mais importante e por em prática as decisões que são tomadas.
P: O continente africano e inclusivé alguns países de língua oficial portuguesa, tem sido cenários de investigações, estudos sobre a Malária, levados a cabo por instituições internacionais do domínio da saúde pública e universidades. Estou aquí, por exemplo, a pensar no caso de São Tomé e Príncipe. Essas iniciativas teem tido algum impacto, diria, no combate da endemicidade da Malária em África?
Dra Magda Nelly: Há vários países que teem projectos de pesquisa em curso, nomeadamente São Tomé e Príncipe, Tanzania, Quénia , Moçambique. São várias as nações envolvidas em iniciativas de investigação da Malaria em parceria com centros de investigação do mundo ocidental. Existem alguns resultados que são bastante prometedores, mas, devo dizer, que a nossa principal preocupação prende-se ao facto de existir pouca capacidade por parte dos países africanos envolvidos nessas parcerias, em darem continuidade ao processo por meios próprios. Depois de cinco a dez anos de pesquisas e como fim dos financiamentos internacionais, quando os parceiros ocidentais se retiram, muito pouca capacidade é herdada, quer seja no domínio institucional ou dos recursos humanos, por esses países por forma a que consigam dar continuidade a essas iniciativas.
O se pode dizer é que neste a situação é mais grave do que na outra. É evidente que a eficácia e a funcionalidade dos sistemas de saúde variam de pais para pais, de regiao para regiao e quanto a propria capacidade de resposta ao problema da Malária. Ma,s onde realmente enfrentamos maiores dificuldades são nos países onde não existe estabilidade política, países em guerra ou saídos de conflitos e onde, como se sabe, os sistemas de saúde foram fortemente afectados pelos conflitos ou catástrofes naturais. Nestes casos, naturalmente a mortalidade devido da Malária é bem mais elevada. O problema dos recursos humanos e de ausencia de programas de combate à Malária financiados pelos governos locais, impõem-se igualmente como obstáculos ao êxito do combate da doença em algumas regiões e países de África.