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Núncio apostólico apedrejado em Cabinda


A nomeação de Dom Filomeno Vieira Dias para Bispo da Diocese de Cabinda foi uma vez mais posta em causa, depois que tentaram agredir o núncio apostólico, Dom Angelo Baccio.

O seu carro foi apedrejado e valeu a intervenção de alguns padres. Quando chegou a Cabinda esta manhã para onde fora despachado para tentar eliminar o mal-estar que se criara desde a nomeação de Dom Filomeno, o núncio apostólico era um homem bastante animado, acreditava que tudo correria bem, até porque, segundo ele, há boas razões para que os fiéis estejam descansados.

"Acho que a Igreja deve ter grande confiança no bispo que vem, dizem acreditar que o bispo vai amar o povo de Cabinda e que nos chamou para o povo de Cabinda vai defender os mais fracos, vai defender os direitos humanos, vai ser um pastor (...) a igreja não muda as suas decisões e sobretudo na nomeação dos bispos e dum bispo que foi o santo padre João Paulo II que assinou a nomeação não muda (...) não sei quando vem mas é uma data que não será muito distante".

Era Dom Angelo Baccio à chegada a Cabinda. Nesta altura era uma pessoa bastante animada com a missão que o levava ao enclave. Ao fim de algumas horas em Cabinda, o núncio saiu de lá bastante desanimado com o que viu, com o que se passou. A acompanhar tudo isso esteve um dos nossos correspondentes em Cabinda que conversou com Luís Costa.

Luís Costa - José Manuel o núncio apostólico tem muitas razões para sair desapontado de Cabinda. O que foi que se passou?

José Manuel - (...)Fora do recinto do Seminário Maior de Filosofia estava uma multidão de fiéis à espera de Angelo Baccio para ouvir a última posição da igreja quanto à indicação de Dom Filomeno Vieira Dias para bispo de Cabinda. Infelizmente as coisas correram mal, porque toda a multidão foi para cima da viatura que transportava Angelo Baccio, fechou o portão e não quiseram deixá-lo passar.
Apedrejaram a sua viatura, valeu a intervenção do padre Tati que teve de tirar o seu casaco para impedir agressões físicas ao núncio apostólico em Angola.

LC - Podemos dizer que a Igreja perdeu o controlo da situação em Cabinda?

JM - Sim. Desde a indicação de Dom Filomeno para bispo de Cabinda a Igreja Católica vive uma crise sem precedentes, o administrador apostólico, Dom Damião que também foi mal sucedido na sua primeira missa em Cabinda, voltou a suceder com o núncio apostólico (...) o clero tem se sentido inseguro, porque a sociedade tenta responsabilizar quer Dom Paulino Madeca quer o próprio clero, sobretudo o padre Carlos Bambi que é acusado de ter ligações com o Governo, como sendo um dos responsáveis pela indicação de um bispo não autóctone. É um processo de difícil desfecho, mas como os próprios fieis prometeram esta tarde, eles pensam fazer cenas um pouco mais desagradáveis por ocasião da apresentação do novo bispo, neste caso, dom Filomeno Vieira Dias que, ao que tudo indica, acontece ainda ao longo deste mês.

LC - Falaste do padre Carlos Bambi que está em Brazzaville, o bispo Dom Paulino esteve presente neste encontro?

JM - Dom Paulino teve uma conversa separada com o núncio apostólico. O núncio chegou por volta das 8.30 e logo às 9 horas reuniu-se de imediato com Dom Paulino, numa conversa quedurou cerca de duas horas e meia, dai que não esteve presente neste encontro, porque negou participar com o restante clero e o núncio apostólico. Eu estive presente quando o núncio apostólico tentou pedir a Dom Paulino que fizesse parte do encontro mas negou porque sabia que o clima não era dos melhores. Parece que já tinha informações que na entrada do seminário, onde o encontro deveria ocorrer já estavam os cristãos e como ele viveu os primeiros dois incidentes não quis avançar dadas as suas debilidades·físicas.

LC - Já houve dois incidentes antes deste, como é que o governo de Cabinda vê a coisa?

JM - O primeiro pronunciamento foi através de um comunicado que a Voz da América também teve o privilegio de passar. De lá para ca não houve mais nenhum pronunciamento por parte do Governo. Ontem nos tentamos por todas as vias ouvir a procuradoria, porque há um processo instaurado pelo governo provincial no sentido de apurar os autores dos incidentes do dia 22 de Março, onde Dom Damião arcebispo e presidente da CEAST, esteve envolvido infelizmente não tivemos a oportunidade de ouvir uma entidade do governo (...)

LC - Quando se fala aqui de fiéis e cristãos, está-se a falar de jovens ou de pessoas de meia idade, quem são de facto as pessoas que aparecem nestes levantamentos, nestas revoltas?

JM - Aparecem de todas as idades. Pelo menos hoje as crianças não apareceram, mas estiveram envolvidos jovens e adultos de ambos os sexos.

LC - Diante disso qual é o teu sentimento, a igreja vai manter a sua posição?

JM - Conversei muito calmamente antes do encontro com o clero e
depois do encontro com o núncio apostólico. A igreja vai manter a sua posição, mas todos nós rezamos para que nas cerimónias na tomada de posse não venha a acontecer o que os cristãos têm estado a prometer, porque eles prometem levar o problema até ao fim este. Nós orámos e tentamos sensibilizar a população para que não venha a tomar posições mais precipitadas, porque se pode crer que também pode ser uma fase de transição, o aparecimento de Dom Filomeno para a diocese de Cabinda. São coisas da igreja e nós estamos a acompanhar à distancia, mas se a igreja não se precaver incidentes maiores, um banho de sangue poderá acontecer pelo ritmo que as coisas tem estado a tomar.

(Entrevista de Luís Costa com o correspondente José Manuel)

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