Links de Acesso

Entrevista com Pedro Pires


Cabo Verde membro da União Europeia ?

Pedro Pires: "As questões que dizem respeito a Cabo Verde, devem ser tratadas com seriedade."

O presidente de Cabo Verde Pedro Pires esteve recentemente na capital dos Estados Unidos, Washington no quadro da Conferencia alusiva a Diaspora cabo-verdiana. O chefe de estado cabo-verdiano, aproveitou no entanto a ocasião, para manter contactos com altos responsáveis da administração americana, com os quais analisou as relações de cooperação entre os Estados Unidos e Cabo Verde, o programa Millenium Challenge Account, de que Cabo Verde e um dos países beneficiários, o papel do arquipélago no processo de pacificação do continente africano, a ascensão do arquipélago ao grupo dos países de desenvolvimento médio, entre outros assuntos.

Em entrevista a VOA, conduzida pelo jornalista Nelson Herbert, Pedro Pires abordou igualmente alguns dos aspectos da actualidade política nacional e internacional, nomeadamente o debate suscitado em redor da hipotética aderência de Cabo Verde a União Europeia, sugerida por um grupo de políticos e intelectuais portugueses.

VOA: Cabo Verde tem sido alvo nos últimos tempos, diria de um certo assedio internacional, quer por parte dos Estados Unidos, quer pela União Europeia. No caso concreto da organização comunitária europeia e a luz do debate despoletado por um grupo de políticos e intelectuais portugueses, a eventual aderência do arquipélago a organização e encarada como uma hipótese a não ser descartada... Diria um debate que já suscitou reacções no país e sobre a qual a sua opinião tem sido aguardada com uma certa expectativa pelos cabo-verdianos ... Qual é concretamente a sua achega a esse debate ?

PP: Nos estamos orgulhosos disso, daquilo que poderíamos chamar de revalorização de Cabo Verde no contexto mundial. Creio que e o resultado daquilo que temos conseguido fazer ate hoje, da nossa credibilidade como estado, mas também dos resultados económicos que conseguimos. Isso torna-nos um parceiro credível. Em relação às relações com a União Europeia, devo dizer que temos desenvolvido relações de interesse mutuo. Cabo Verde tem um acordo monetário com a União Europeia, que começou por ser com Portugal, mas com a entrada em circulação do Euro, a nossa moeda passou a estar indexada a moeda europeia. Trata-se de uma cooperação de interesse para o país. Em relação ao futuro das nossas relações, acredito que vamos continuar a trabalhar para que essas relações se consolidem, se aprofundem e se tornem mais úteis a Cabo Verde . Se me perguntar como ? Dir-lhe-ia o seguinte. Até hoje temos afirmado que estamos a trabalhar para uma parceria de interesse que nos possibilite meios e recurso para uma aceleração do nosso desenvolvimento, ou para a obtenção dos meios que nos permita crescer e fazer do nosso desenvolvimento, um desenvolvimento sustentado e irreversível. Em relação à adesão a União Europeia, penso que devemos começar pelo principio. Trata-se de iniciativas de pessoas que entendo, tem uma certa simpatia por Cabo Verde, mas que são do meu ponto de vista, ideias dessas pessoas. As questões que dizem respeito a Cabo Verde, qualquer alteração da sua condição, precisa ser tratada com profundidade, com seriedade no pais. Portanto uma questão que diz respeito aos cabo-verdianos em particular e as instituições políticas de Cabo Verde. Portanto e um assunto que merece um tratamento serio e não uma abordagem, diria com alguma ligeireza.

VOA: Mas de qualquer forma um assunto que tem mobilizado a opinião publica cabo-verdiana. A ter que se tomar uma decisão na matéria, os cabo-verdianos seriam chamados a pronunciar-se, através de um referendo nacional ?

PP: Não vou avançar com ideias, porque na minha opinião esse assunto não é uma questão de actualidade. Portanto não vale a pena tratar neste momento aquilo que não é, nem premente nem actual... Trata-se de hipóteses e ideias de pessoas com uma certa simpatia por Cabo Verde.

VOA: E relativamente ao assedio americano... Acredita por exemplo num cenário futuro, a luz da campanha internacional contra o terrorismo, no qual a componente militar poderia ter um outro peso nas relações entre os Estados Unidos e Cabo Verde. Marines americanos treinam forças especiais cabo-verdianas, aventa-se o interesse americano por uma cooperação militar bem mais alargada com Cabo Verde... E esse o cenário que se desenha no horizonte das relações entre os dois países ?

PP: Não sei se chamaria isso assédio. Entendo que temos estado a desenvolver relações com os Estados Unidos da América, nos mais diversos domínios e ultimamente, temos estado a desenvolver relações no domínio da segurança e sobretudo da segurança aérea. Cabo Verde, como todos os outros países, devem dar o seu contributo, para que tenhamos um mundo mais seguro. Para que as pessoas, viagem por exemplo com segurança sem temores. Nessa lógica pensamos que Cabo Verde não podia ficar de fora e que devia dar a sua contribuição para a segurança internacional. Diria mais, o nosso país e os seus governantes estão dispostos a discutir, a negociar para apurar o que Cabo Verde pode fazer para a melhoria da situação de segurança internacional. Convém não perder de vista que o próprio Cabo Verde tem as suas vulnerabilidades, que não serão ultrapassadas sem a cooperação de outros países. Nesta matéria Cabo Verde têm os seus interesses próprios e espera obter dos países que desejam cooperar connosco, a solidariedade indispensável a superação das nossas vulnerabilidades nesse domínio.

VOA: Recentemente a imprensa nacional trouxe a tona o facto de que Cabo Verde, teria sido contactado pela União Africana, para mediar o conflito na região sudanesa de Darfur ... e que o pais tinha delegado essa missão ao antigo presidente António Mascarenhas Monteiro. O que ha de concreto sobre isso ?

PP: Não, não é bem assim. Creio que ha uma interpretação errada ou exagerada do que realmente se passou. Darfur esta muito longe de Cabo Verde e trata-se de um contexto extremamente complexo que diz respeito a países que dominam e conhecem melhor a região e o problema. De qualquer forma Darfur constitui uma preocupação para todos os africanos. O que aconteceu foi tão somente isto: esteve em Cabo Verde recentemente um enviado da comissão da União Africana, Alpha Konare que abordou essa questão connosco e disse-nos na altura que a comissão estaria interessada numa contribuição do antigo presidente de Cabo Verde, Mascarenhas Monteiro. A questão é tão só essa ! Nós do nosso lado demos a conhecer a Mascarenhas Monteiro essa intenção e ele manifestou-se disponível a colaborar e aguarda que seja contactado formalmente para alguma missão.

VOA: E no que tange a Guine Bissau. Visitou recentemente aquele pais, com o qual Cabo Verde preserva laços históricos... Vai a diplomacia cabo-verdiana empenhar-se a fundo na busca de uma solução para a situação de instabilidade permanente naquele pais. africano.

PP: (Risos) Uma situação que temos estado a seguir com muita atenção, porque temos laços de ordem histórica, cultural de solidariedade e comunidade, de projectos e portanto isso só nos mobiliza a estar do lado dos guineenses nos momentos difíceis. Entendo que a Guine Bissau ainda não conseguiu ultrapassar a situação de dificuldade em que se encontra e que será necessário um esforço aturado de anos, do meu ponto de vista para que se apazigúe definitivamente o pais, porque entendo que essas questões não se resolvem com as eleições. Alias, pelo contrario as eleições podem complicar um pouco a situação, se as confrontações entre os candidatos e partidos políticos chegar ao rubro. A situação na Guine Bissau, aconselha a muito bom senso, muito cuidado porque a derrapagem pode estar iminente. Dai que, espero que nesta fase de campanha eleitoral, haja atitudes que não ponham em causa os ganhos já conseguidos. Uma situação que eu pessoalmente tenho acompanhado com atenção e e obvio que naquilo que for necessário estarei sempre disponível.

VOA: Mudando de assunto ! No pais já houve expressões de apoio a sua eventual recandidatura ao cargo... e como obvio, os cabo-verdianos aguardam com uma certa expectativa, pelo seu pronunciamento a propósito... Já se pode falar da sua recandidatura para mais um mandato ?

PP: (Risos) Eu acho que não! Não se deve ainda falar nisso, pelo menos por enquanto. Como deve imaginar são decisões que requerem ponderação e ver o que e que melhor serve os interesses de Cabo Verde e também o que nos serve, a nós ,a titulo pessoal, num dado momento da nossa vida.

XS
SM
MD
LG