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Angola Fala Só - José Matuta Cuato: “A diversificação da economia tem de sair do discurso e passar à prática”


José Matuta Cuato
José Matuta Cuato

Economista diz que "petrodependência" começa a mudar e ouvintes questionam se o Governo luta contra a pobreza ou contra os pobres.

30 Jan 2015 AFS - José Matuta: “A diversificação da economia tem de sair do discurso e passar à prática”
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O ano de 2015 será difícil em Angola devido à queda do preço do petróleo a nível internacional, disse o economista José Matuta Cuato no programa Angola Fala Só, da VOA, esta sexta-feira, 30.

Na conversa semanal entre um convidado e os ouvintes, Cuato reconheceu que a crise actual em Angola terá grandes implicações, no entanto, admitiu ser uma oportunidade para os empresários e para a produção nacional.

“O Governo tomou medidas de fundo, como a proibição de importações de produtos que são feitos no país, o que irá abrir oportunidades para mais produção nacional, mais empregos e maior retenção de divisas em Angola”, afirmou aquele economista.

Instado pelos ouvintes a responder se a crise actual deve-se, de facto, à queda do petróleo ou à má gestão do Executivo, José Matuta Cuato explicou: “se o Orçamento Geral do Estado é elaborado com o petróleo a 81 dólares o barril e o preço actual é de 40 dólares, é claro que essa crise deve-se essencialmente a essa queda”.

A “petrodependência”, como a classificou Cuato, foi muito criticada pelos ouvintes que questionaram por que Angola não diversifica a sua economia, que está ancorada, em cerca de 75 por cento no petróleo.

O convidado lembrou que a situação melhorou nos últimos anos porque em 2003 a dependência ascendia a 90 por cento, enquanto agora desceu para 75 por cento.

No programa, os ouvintes criticaram o facto de outros recursos naturais não serem explorados convenientemente como diamantes, ferro, cobalto, além do café e da agricultura, entre outros.

Emanuel Ferreira, de Luanda, lamentou o facto de os “estrangeiros explorarem o nosso petróleo, mas ser esse mesmo petróleo que nos atormenta porque não nos beneficiamos dele”, enquanto Justino Júlio, do Bié, perguntou se “o Governo luta contra a pobreza ou contra os pobres”.

O economista José Matuta Cuato explicou que a diversificação da economia leva o seu tempo, mas disse ter chegado o momento de as autoridades passarem a acção.

“Temos de acabar com este discurso da diversificação da economia. A diversificação da economia tem de sair do discurso e passar à prática”, defendeu aquele especialista que apontou ainda acções que terão de ser desenvolvidas para inverter o estado actual.

“A universidade não é para todos, muitos vão e saem como entraram, mas há que apostar na formação profissional, na criação de mais incubadoras de empresas para que um jovem empreendedor em qualquer lugar do país possa ir lá, encontrar apoio e avançar com o seu projecto”, disse Cuato, que pede ao Governo uma maior abertura do mercado.

Quanto à agricultura, Cuato também defendeu a mudança da actual narrativa: “a agricultura em Angola não pode ser de enxada na mão, há que se avançar para a agro-indústria, apostar na tecnologia, na formação e trazer estrangeiros para nos ajudarem a mudar a forma de trabalhar”.

A propósito do mercado, aquele economista afirmou que “continua viciado, mas está a mudar”.

Um ouvinte perguntou “qual a contribuição que os generais e ministros que controlam os grandes negócios, nomeadamente diamantes e madeira, têm dado para a economia do país”. Em resposta, Cuato lembrou que os generais não estão impedidos de ser empresários.

“Eles têm de saber separar o facto de serem generais, nos quartéis, e empresários quando lideram um projecto empreendedor”, defendeu José Matuta Cuato, para quem, no entanto, “a situação está a mudar, com muitos jovens a abraçarem o empreendedorismo”.

Num programa dominado pela economia e a crise que já se sente em Angola, principalmente com o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade, o economista José Matuta Cuato considerou que o país deve avançar mais rápido e “com mais trabalho, que é o que irá levar-nos a sair da petrodependência”.

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