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Morte de médico detido pela polícia abala Angola


Dr. Adriano Manuel, presidente do Sindicato Nacional dos Médicos
Dr. Adriano Manuel, presidente do Sindicato Nacional dos Médicos

O Sindicato dos Médicos de Angola anunciou que vai intentar uma ação judicial contra a Polícia Nacional (PN) pela morte do médico, Sílvio Andrade Dala, ocorrida no passado dia 1 de Setembro, numa esquadra da corporação, em Luanda, para onde foi levado sob detenção por, alegadamente, não usar a máscara de protecção facial dentro do seu automóvel.

Morte de medico detido abala Angola - 3:21
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O sindicato marcou, para sábado, uma marcha que vai encerrar um período de sete dias de luto, iniciado hoje, pela morte do médico.

O presidente da organização sindical, Adriano Manuel disse à VOA que as explicações tanto do Ministério do Interior como dos agentes que detiveram o médico estão eivadas de contradições que sugerem que o profissional foi alvo de espancamento.

O médico angolano diz que os resultados da autópsia revelados pela polícia “são questionáveis”.

“A informação da polícia não é real e por isso não concordamos com o resultado que nos apresenta e vamos entrar com um processo crime”, garantiu.

Entretanto, o porta-voz do Ministério do Interior, comissário Waldemar José, citou o médico legista encarregue da autópsia como tendo assegurado que a morte do médico foi "patológica", e não resultante de espancamento.

Mas quem também não está convencido com as justificações da polícia é o responsável da Friends of Angola, Rafael Morais, que afirma ter havido excesso de zelo na actuação dos agentes da ordem.

A morte do médico Sílvio Dala está, uma vez mais, a chocar a sociedade angolana e a acirrar o debate à volta dos excessos da polícia, no cumprimento das medidas de prevenção contra a Covid-19, que já resultou na morte de muitos cidadãos desde que foram decretadas.

A obrigatoriedade do uso de máscara no interior das viaturas começa a ser questionada em Angola e o Presidente da República, João Lourenço está a ser pressionado a demitir o ministro do Interior, Eugénio Laborinho.

O jornalista e membro do Conselho da República, Ismael Mateus, sugeriu que “a morte de um médico, de modo estranho, por falta de máscara, deveria levar alguém a apresentar a sua demissão ou a ser demitido no noticiário seguinte”.

Num comentário escrito na sua conta no Facebook, Ismael Mateus defende que “se cada vez que a PN cometesse um excesso, alguém com poder fosse politicamente responsabilizado, os abusos já teriam acabado”.

Por seu turno, o conhecido activista, Luaty Beirão disse que o médico Sílvio Dala morreu porque "violou a estupidez tornada lei” e foi vítima de “atitude de atrasados mentais”, numa referência à obrigatoriedade do uso de máscara no interior das viaturas e ao pagamento compulsivo de multa correspondente.

“Em Angola, para te multarem te levam para a esquadra e só te largam quando conseguires que alguém pague a multa por ti e vá lá apresentar comprovativo, havendo já quem dormiu 2 dias na esquadra por não usar máscara”, escreveu no Twitter.

"Morreu um médico, como se os tivéssemos em excesso. Estava no seu carro, sozinho, sem máscara”, comentou o activista nas redes sociais.

Luaty critica de forma áspera o que chamou de “malvadez da polícia, a perversidade com que abusam da farda que envergam e poucos duvidam que, ainda que o médico tivesse tropeçado e batido com o crânio, essa queda tenha sido provocada por empurrões dos agentes. Se a autópsia foi feita pela própria polícia então ela vale zero”, rematou.

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