Kangamba acusa advogados de corromperem magistrados angolanos

Bento Kangamba (Foto de Arquivo)

O general angolano Bento dos Santos Kangamba acusa alguns advogados de corromperem procuradores e juizes e revelou ter abordado a prisão dele com o Presidente João Lourenço.

Em conversa com a VOA, Kangamba reagia assim à decisão do Tribunal Supremo que analisou o pedido de relaxamento das medidas de coação que lhe foram impostas, depois da prisão dele, a 29 de fevereiro, na província do Cunene, alegadamente por pretender fugir para a Namíbia.

Na sua soltura, o tribunal impos-lhe o Termo de Identidade e Residência e reteve o seu passaporte.

“Julgamos que a sua conduta não configura fuga que de ‘per si’ que justifique a aplicação do conjunto de medidas de coação que lhe foram aplicadas, medidas essas que em nosso entender devem ser alteradas, mantendo-se apenas a de interdição de saída do país por se afigurar judiciosa e menos gravosa enquanto tramita o processo principal em cujo factos determinaram a sua aplicação”, lê-se na decisão do tribunal ao recurso interposto pelos advogados do general.

Bento dos Santos Kangamba diz que a decisão vem mostrar que terá sido detido de forma injusta e denunciou supostos advogados de elite que corrompem procuradores para detenções ilegais de cidadãos.

“Alguns advogados, supostos advogados de elite, vão ligando aos juízes que têm processos como os de Kangamba, de Joaquim, influenciando pagamentos para nós termos de perder causas”, denuncia Kangamba para quem o caso dele é um exemplo disse em tempos de luta contra a corrupção.

Encontro e apoio a João Lourenço

“Isto não tem nada a ver com o partido, é um grupo de três ou cinco pessoas que vão sujando a imagem do Presidente e do partido”, reforça.

Questionado se teve em algum momento solidariedade partidária, Kangamba relata ter estado com o Presidente João Lourenço, quem procurou saber o que terá passado aquando da sua detenção.

“O Presidente me recebeu na sede do partido e me perguntou o que se passou, eu conheço bem o Presidente, e é um camarada que tem caráter de tropa”, responde.

O empresário e antigo dirigente político reitera que não dá “graxa” nem tenta prejudicar outras pessoas em seu próprio benefício e que vai apoiar “o partido e o Presidente”.

Kangamba lembra que o tempo de poder ser ministro ou governador passou e que também recusou ser deputado.

Processo

Na altura da prisão, Bento Kangamba foi indicado que tentava fugir do país pela Procuradoria Geral da República (PGR), que o acusa de burla por defraudação, num caso que teve início em 2017, quando o general contraiu uma dívida no valor de 15 milhões de dólares junto dos cidadãos Teresa Gerardin e Bruno Gerardin.

No ano passado, depois de o general ter pago 12 milhões de dólares e frente à demora do pagamento da última tranche, o casal Gerardin, através da advogada Paula Godinho, entrou com uma ação civil contra Bento Kangamba na justiça.

Em Novembro de 2017, o Tribunal Provincial de Luanda ordenou o confisco de alguns prédios rústicos e outros bens, como carros, de Bento Kangama.

A assessoria de imprensa do general emitiu um extenso comunicado em que afirma ter havido o que chama de “um pequeno atraso no reembolso de uma ínfima parte de um valor que já está quase totalmente liquidado” e acusa as autoridades de violarem o princípio de segredo de justiça.