Cabo Delgado: Intervenção militar da SADC é salutar, mas “é preciso apaziguar corações infelizes”, dizem analistas

Militares africanos, Campo de Treino de Lohatla, África do Sul, 2015.

Analistas saudam a decisão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) de intervir no conflito militar em Cabo Delgado, norte de Moçambique, mas dizem que, além da demonstração de força, é preciso também apaziguar os corações, que podem não estar tão felizes como se pensa.

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Cabo Delgado: Intervenção militar da SADC é salutar, mas “é preciso apaziguar corações infelizes”, dizem analistas

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou que a SADC está a preparar planos para intervir na província de Cabo Delgado, afirmando que "a questão de insegurança está a ser discutida, extensivamente, com base em briefings do próprio Governo de Moçambique".

Em meios académicos, esta opção é considerada válida, tendo em conta que se trata de um conflito de longa duração e o facto de que a cada momento, o grupo de insurgentes está a fortificar-se.

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Ramaphosa: insurgência em Moçambique deve ser levada a sério

Para o académico Constantino Marrengula, a entrada da SADC, em particular da África do Sul, com mais recursos e com mais capacidade, pode ajudar Moçambique a lutar contra a insurgência, sublinhando que já vai sem tempo nesse particular.

Marrengula acredita que a experiência da África do Sul, resultante da sua intervenção na República Democrática do Congo, possa ser de alguma utilidade, porque tendo em conta aquilo que está a acontecer em Cabo Delgado, "há questões de inteligência e de controlo da fronteira marítima" que se deve ter em conta.

Riscos da internacionalização do conflito

Ele avançou que "a África do Sul está melhor capacitada para ajudar Moçambique neste conflito, o único problema disso é a internacionalização mais efectiva do conflito, porque o discurso é que estamos perante um problema de terrorismo, e eu concordo, mas se começam a entrar outras potências, o grupo de países que financiam o terrorismo, também fortifica-se ainda mais".

Marrengula é da opinião de que isso agrava ainda mais o risco de uma duração mais prolongada do problema, "e nesse caso, a solução terá que ser mais militarizada".

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Relativamente à informações de que os insurgentes podem ter algum apoio local, aquele académico afirmou ser provável que o país precise de força militar, mas também de uma outra abordagem de desenvolvimento social e económico de toda a região afectada pelo conflito.

Apaziguar corações infelizes

Para Marrengula, "é preciso demonstrar força, mas ao mesmo tempo que se procura domar e apaziguar corações que possam não estar tão felizes como nós pensamos que estão".

O político Raúl Domingos também considera correta a decisão da SADC de intervir em Cabo Delgado, porque o problema de Moçambique é também da região, e terrorismo é um problema internacional.

Domingos, que lidera o Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), diz que Moçambique "não se deve dar ao luxo de pensar que pode combater o terrorismo sozinho; o país precisa de reunir forças da região, do continente e do mundo, porque é um fenómeno que passa por muitas fronteiras".

No seu entender, o facto de a SADC não possuir tropas, não constitui constrangimento e recordou que no caso do conflito armado de 16 anos em Moçambique, o Zimbabwe e a Tanzania, "enviaram forças militares para combater a Renamo".

Por seu turno, o diretor executivo do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, afirma ser urgente a intervenção da SADC, "porque Moçambique, mesmo estando a mobilizar mercenários, não está a conseguir deter o avanço e a consolidação da insurgência militar em Cabo Delgado."