Guiné-Bissau: Morreu Kumba Yalá

  • VOA Português

Guiné-Bissau, ex-Presidente Kumba Yalá

A sua imagem de marca era o barrete vermelho, que trazia sempre nas aparições públicas.
Morreu Kumba Yala, ex-Presidente da Guiné-Bissau

O ex-Presidente da Guiné-Bissau Kumba Yala morreu hoje, aos 61 anos, devido a problemas de saúde. O Hopistal Militar não confirmou as causas da morte de Yala mas fontes próximas do ex-presidente falam em problemas de saúde que vinha enfrentando nos últimos tempos ao ponto de, antes e depois dos discursos na actual campanha do candidato do seu partido, o PRS, tomar um comprimido.

Kumba Yalá, o emblemático homem do gorro vermelho, que morreu hoje em Bissau, candidatou-se à Presidência da República na Guiné-Bissau em todas as eleições desde 1994, foi eleito em 2000, mas deposto em 2003, por um golpe de Estado militar.

Kumba Yalá, que fez 61 anos a 15 de Março, renunciou à vida ativa política a 1 de Janeiro deste ano, alegando "haver um tempo para tudo", e decidiu apoiar o candidato independente às presidenciais Nuno Nabian.

O fundador do Partido da Renovação Social (PRS) recorreu a várias citações da Bíblia para argumentar que chegara a hora de deixar o seu lugar a outros, não deixando de parte a ideia de que poderia vir a ser "senador da república".

Durante o anúncio da sua saída da vida política ativa, Kumba Yala afirmou que partia "com a consciência tranquila" de quem "sempre lutou para uma vida melhor para os seus concidadãos".

Filho de agricultores, era natural de Bula, poucos quilómetros a norte de Bissau.

A sua imagem de marca era o barrete vermelho, que trazia sempre nas aparições públicas.

Nas eleições de 1994, como líder do Partido da Renovação Social, desafiou o então chefe de Estado, general João Bernardo "Nino" Vieira, mas saiu derrotado numa segunda volta renhida.

Chegaria ao poder em 2000, com os analistas da política guineense a afirmar que os eleitores "estavam cansados do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)", o partido histórico que tinha mergulhado o país numa guerra civil de 11 meses.

Kumba Yalá só ficaria na cadeira presidencial durante três anos, sendo destituído num golpe de Estado militar.

Candidatou-se novamente à Presidência da República nas eleições de 2005, em que foi o terceiro candidato mais votado. Não teve votos suficientes para disputar a segunda volta, mas foi decisivo com o seu PRS a fazer eleger Nino Vieira, que disputou a segunda volta com Malam Bacai Sanhá.

"Nino" não terminou o mandato porque foi assassinado em casa, em Bissau, em Março de 2009, obrigando o país a organizar eleições presidenciais antecipadas.

Desta vez, na segunda volta contra Malam Bacai Sanhá, Kumba Yalá foi derrotado nas urnas e exilou-se em Dacar (Senegal) e depois em Rabat (Marrocos).

Em Janeiro de 2012, quando foi anunciada a morte de Malam Bacai Sanhá, vítima de doença, Kumba Yalá, de etnia balanta, reaparece em cena e volta a candidatar-se à presidência.

Juntamente com outros candidatos queixou-se de fraude eleitoral e a 12 de Abril promoveu uma conferência de imprensa para anunciar que não aceitava participar na segunda volta contra Carlos Gomes Júnior.

Poucas horas depois deu-se o golpe de Estado militar que conduziria ao actual período de transição.

Para trás ficava a sua filiação no PAIGC quando adolescente, a criação do PRS e os comícios que mobilizaram multidões.

Desportista, refugiou-se em Portugal para fugir ao serviço militar (ainda no tempo colonial). Fez o liceu em Loulé e em Lisboa e, segundo a sua biografia oficial, licenciou-se em Filosofia e Teologia em 1981. Formou-se ainda em ciência política em Berlim e, em 1987, chefiou uma delegação do PAIGC a Moscovo para participar no 70.º aniversário da Revolução de Outubro.

Ainda segundo a mesma biografia, em 1990 saiu do PAIGC e quatro anos depois foi eleito deputado já pelo PRS. Em 1995 concluiu a licenciatura em Direito, em Bissau. Era casado e tem vários filhos.

No meio do seu percurso político, entre as corridas eleitorais, converteu-se ao islamismo, mas raras foram as vezes em que foi chamado pelo nome que adoptou quando se converteu: Mohamed Yalá.

Simplesmente continuou a ser Kumba Yalá, ou Koumba Yalá Kobde Nhanca, mesmo nas camisolas usadas na campanha.