Guiné-Bissau: Ilhas de Bolama Bijagós "amargam" um isolamento que não acaba

Bolama, Guiné-Bissau

"É simplesmente risco de vida porque piroga não é um meio de transporte para pessoas. É uma vergonha nacional o facto de o Governo da Guiné-Bissau não ter nenhum barco", diz um residente do arquipélago.

A população das Ilhas de Bolama Bijagós sente-se cada vez mais isolada devido à falta de navios de transporte de passageiros.

No total, são 88 ilhas costeiras e estuarinas oficialmente registadas, algums habitadas e outras não.

As queixas sobre a falta de navios para a zona insular do país são constantes, não apenas porque aumenta o isolamento, como colocar em causa a segurança das pessoas.

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Guiné-Bissau: Ilhas de Bolama Bijagós "amargam" um isolamento que não acaba


"É simplesmente risco de vida, porque piroga não é um meio de transporte para pessoas. É uma vergonha nacional o facto do Governo da Guiné-Bissau não ter nenhum barco", diz um residente.

Outro acrescenta que "o Governo tem de diligenciar-se para ter um barco que faça a ligação [entre ilhas] e que permita a fácil deslocação da população de um lado para outro".

Na a ausência de navios de cargas e passageiros, a população é obrigada a viajar, através de pirogas, cujos naufrágios são frequentemente registados, sobretudo, nas travessias entre as ilhas habitadas, testemunha ainda um dos habitantes das ilhas.

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"O que acontece com os cidadãos guineenses nas outras ilhas mais longínquos de Bubaque é muito grave", revela.

Ciente desta realidade, o Movimento “Djius Aós” (em português "Ilhas Hoje”, uma organização dos filhos e amigos do Arquipélago dos Bijagós, disse à Voz de América que foram feitas muitas tentativas junto às instituições do Estado.

"Fizemos várias cartas e enviamos ao Governo, pedimos audiências, promovemos conferências de imprensa, fizemos manifestos e enviámos ao Parlamento, mas sem efeito", conta Chambino Cândido Banca, coordenador do Movimento.

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A Voz da América contactou o actual Governador da Região de Bolama Bijagós, mas não se disponibilizou a falar da situação, pelo menos, por enquanto.

Contudo, quem se junta à preocupação da população das ilhas é o antigo Governador da Região de Bolama Bijagós, Venâncio Cabral.

"Estamos na estação das chuvas. Quando vejo estudantes, que vão para Bissau passar férias, a embarcar nas pirogas, a imagem que sempre me veio é do tipo estar a empurrá-los para a morte. É ver mesmo alguém a caminho da morte, mas não tem como evitá-lo, porque é a única via para chegar ao continente [Bissau]", diz Cabral, sublinhando que "para receber o teu salário, tens que ir a Bissau, porque não há nenhum banco instalado na região de Bolama Bijagós, para ter saúde tens que ir a Bissau, aqui não há tribunais, mesmo para comprar produtos da primeira necessidade tens que ir Bissau".

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O antigo governador diz lamentar "profundamente esta falta de meios de transportes para as ilhas".

Ferira-se que, neste momento, existe apenas um navio da empresa privada Consulmar que faz a ligação semanal com Bubaque.

Entretanto, quem quiser viajar, por exemplo, para Bolama, sede regional do Arquipélago dos Bijagós, as pirogas são únicos meios de transporte disponíveis.

Questionado sobre soluções, o antigo governador Venâncio Cabral diz que a autordade local não tem poderes para compra e aquisição de um navio em nome do Estado guineense.

"Precisa-se ter uma certa autonomia e nós não somos autónomos. Por isso, no meu tempo, não pude fazer nada para garantir meios de transportes marítimos para Bolama Bijagós", concluiu Venâncio Cabral.

Os residentes dizem esperar que o próximo Governo traga soluções para essa situação.