Afeganistão - Estratégia Americana em Revisão

Soldados americanos no local de uma explosão em Cabul, Afeganistão (Dezembro 2010)

Reduzir as tensões entre a Índia e o Paquistão pode ser a única forma de criar de facto uma verdadeira estabilidade no Afeganistão e em toda a região

O Comandante-em-chefe da NATO no Afeganistão, o general David Petraeus, terá dito à Casa Branca que apesar do aumento em 30 mil soldados ter melhorado a segurança no Afeganistão, os insurrectos talibãs continuam a ser uma presença forte em muitas zonas daqueles países. A avaliação do general surge poucos dias antes do presidente Obama fazer a sua revisão da estratégia afegã.

A visita surpresa do presidente Barack Obama ao Afeganistão, na semana passada, foi vista em Washington como um esforço de mudar uma política de guerra que parece não surtir o efeito pretendido.

Na altura Obama afirmou: “Dissemos que íamos quebrar o ímpeto dos Talibãs e é o que estamos a fazer. Estamos na ofensiva, cansados de estar na defensiva, tendo como alvo os seus líderes e empurrando-os para fora das suas praças-fortes.”

Enquanto Obama falava os seus conselheiros finalizavam uma avaliação alargada do impacto dos 30 mil soldados adicionais enviados para o Afeganistão bem como da estratégia em geral.

Mas o que pensam os analistas?

Michael O’Hanlon é um analista da Brookings Institution

“Nada de fundamental sobre a estratégia deverá mudar. O que penso ser mais importante e mais provável ver é uma importante avaliação em meados de 2011, pois será nessa altura que se deverá ver uma grande mudança (no terreno).”

Será nessa altura que o impacto do envio das tropas adicionais será visível. Uma mudança de política deverá incluir tentativas para levar o Paquistão a deixar de abrigar os talibãs afegãos, como os da rede Haqqani, que usam território paquistanês para lançar ataques através da fronteira. Acrescenta este analista que se o Paquistão continuar a permitir o uso do seu território será um grande golpe nos esforços americanos.

Lisa Curtis da Heritage Foundation está também preocupada com o Paquistão e o seu fracasso em reduzir os ataques a partir do seu território.

“Há inúmeras informações sobre as ligações do Paquistão à rede Haqqani, responsável por alguns dos mais virulentos ataques contra soldados americanos no Afeganistão. Penso que os políticos americanos deviam perguntar-se como é que os Estados unidos beneficiam da sua parceria com o Paquistão e dos biliões de dólares que dão em ajuda aquele país.”

David Rhode, antigo repórter do jornal New York Times, foi raptado por combatentes talibãs da rede Haqqani, e mantido refém mais de sete meses antes de conseguir escapar. Ele afirma que o Paquistão nunca rejeitará os talibãs pois receia a influência da Índia no Afeganistão. E faz eco das palavras da embaixadora americana no Paquistão, Anne Patterson, tal como divulgadas recentemente.

“Ela escreveu, justificadamente ou não, que o aumento do investimento e do comércio da Índia no Afeganistão e o seu apoio ao desenvolvimento ao governo afegão – encorajado pelo governo americano – leva o Paquistão a aceitar ainda mais os grupos talibãs. E como ela o diz, não há dinheiro nenhum que leve Islamabad a quebrar essa ligação. “

Reduzir as tensões entre a Índia e o Paquistão, como nota este repórter, pode ser a única forma de criar de facto uma verdadeira estabilidade no Afeganistão e em toda a região.