Prisão de traficantes e ocupação de favelas não colocam fim ao tráfico de drogas no Brasil

Prisão de traficantes e ocupação de favelas não colocam fim ao tráfico de drogas no Brasil

Polícia do Rio de Janeiro prepara a ocupação da favela da Rocinha

A prisão do traficante chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, o Nem, que virou notícia no mundo, é um golpe no cérebro do crime organizado. No entanto, está longe de ser o fim do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. A avaliação é de Vinicius Cavalcanti, presidente Regional da Associação Brasileira de profissionais da Segurança Pública.

Para o especialista da área, prisões de traficantes, como as ocorridas essa semana e a ocupação da Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina, pela Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, marcada para este domingo, fazem parte do que muitos chamam de “limpeza” para a Copa do Mundo e outros eventos internacionais. “Você não pode partir para certos eventos, como Rio + 20, Copa do Mundo, visita do Papa, Jogos Olímpicos, tendo lugares onde o poder público não manda, onde a criminalidade impera”, afirma. “Mas, tenhamos em mente que, qualquer operação de pacificação daquela área ainda vai ter que lidar com os criminosos remanescentes, vai ter que lidar com o fato de que a Rocinha é uma área onde a população foi cooptada pela criminalidade durante esse mando que se estende há muito tempo,” explica Cavalcanti.

Para o especialista, o governo do Rio de Janeiro vai ter que recuperar a confiança de uma população que estava acostumada a ter traficantes fazendo o papel que o Estado deveria fazer. “O bandido Robin Hood que dava o gás, pagava os enterros, ajudava nas despesas, atuava como banco dando empréstimos a juros mais baixo que os dos bancos. A população vai ficar esperando para ver se essas ações da polícia são reais ou mais um jogada de marketing.”

Além de reconquistar a confiança dos moradores de favelas, como a da Rocinha, outros problemas, na visão do analista, vão dificultar a permanência da luta contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. “A dura realidade é que o enfrentamento de uma criminalidade que chegou ao patamar que permitimos vai ser problemático. Você não tem condições de, da noite para o dia, dar às forças de segurança o efetivo que elas necessitam, com treinamento e capacitação. É preciso selecionar, treinar o policial, colocar em campo e fazer ajustes. Isso é muito complicado, não pode ser feito com a velocidade que gostaríamos.”

Para o presidente Regional da Associação Brasileira de profissionais da Segurança Pública o fim do tráfico depende do fim da corrupção política e policial, que existe no Brasil e no exterior. “Em ouros lugares do mundo o problema também se processa com essa mesma cumplicidade, só que, talvez, não com a grande cumplicidade dos altos escalões, como temos aqui – envolvendo deputados, secretários, governadores.”

Cavalcanti é duro ao definir a complexidade da luta contra o tráfico no Brasil, um combate que vai muito além do que prender traficantes que vivem em favelas ou pacificar morros. “O que agente precisa é que a idéia da pacificação e do pleno controle do Estado seja efetivamente não uma política de governo, mas uma política de Estado. Isso é difícil não tanto pela ação da própria polícia, mas pelo fato de que tudo nesse país é mandado por uma classe política que, muitas vezes, merece está lá nas penitenciárias junto com os traficantes,” conclui.