Angola: Kwanza procura "internacionalização" apesar do seu enfraquecimento

Kwanza, moeda de Angola

Economista diz que sustentabilidade da moeda depende da estabilização dos preços, controlo da inflação e do défice orçamental e mais investimentos.

O Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou “acertos adiantados” para um acordo até finais de Setembro, com a Namíbia e África do Sul, que visa tornar o kwanza em moeda aceite nos sistemas de pagamentos naqueles países.

Este movimento acontece às vésperas da cimeira dos países emergentes, Brasil, Rússia, India, China e África do Sul (BRICS), a realizar-se em Agosto em Pretória, que vai analisar uma eventual criação de uma moeda para a comunidde.

A medida, que foi anunciada na última quinta-feira pelo vice-governador do BNA, Pedro Castro e Silva surge depois do fracasso de um acordo análogo assinado com a Namíbia, em 20215 que permitiria a conversão entre o kwanza e dólar namibiano nas cidades fronteiriças de Oshikango e Santa Clara.

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"Vamos colocar o kwanza no sistema de pagamentos da SADC, na perspetiva de poupar custos e não passar por correspondentes em dólares e, deste modo, contribuir para o aumento das trocas comerciais ao nível da região Austral”, afirmou Castro e Silva.

Ele acrescentou que a moeda angolana deverá ser colocada no sistema de pagamentos da SADC, até finais do terceiro trimestre, fruto do acordo assumido pelos bancos centrais da região.

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O economista Estevão Gomes defende que a internacionalização da moeda angolana só será sustentável se o país tiver “uma economia com a base de estabilização dos preços, controlo da inflação e do défice orçamental e mais investimentos no processo de diversificação da economia”.

Quanto à possível “desdolarização” das economias da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), que está ser estimulada pelos BRICS, o economista diz que a moeda americana “vai existir sempre embora com uma dependência mais reduzida”.

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Ainda assim, Gomes entende que, depois da Rússia, a robustez da economia da África do Sul poderá fazer com o rand venha a ser “a moeda de intercâmbio para outros países de África e do mundo”.

O jornalista Ilídio Manuel diz não acreditar na sustentabilidade do acordo anunciado por entender que “nenhum país vai aceitar negociar um acordo em vai sair nitidamente prejudicado” a exemplo do anterior protocolo com a Namíbia em 2015 que fracassou porque, segundo afirmou, “Angola não honrou o compromisso sobre a contrapartida em dólares”.

O vice-governador do BNA justificou a decisão com o argumento de que "sempre que temos de importar, inclusive a partir de países da SADC, esse processo de importação é pago em dólares, através de bancos correspondentes sediados em Nova Iorque, e isso aumenta o custo da transacção".

Para ele, "esta foi então uma das formas que encontramos entre os congéneres da SADC de como usar os nossos sistemas de pagamentos e tornar mais céleres e mais económicos os processos de importação”.

Castro e Silva assegurou que o país está focado na estabilidade financeira do mercado e isso implica também o acompanhamento à saúde financeira dos bancos, para que estes possam continuar a prestar serviços à sociedade.

Ele sublinhou ainda que os acordos preveem também a interligação dos sistemas de transferência instantâneas.