Angola: Construção de novos hospitais levanta perguntas sobre outros investimentos na Saúde

Banco de Urgência do Hospital Regional de Malanje, Angola

Especialistas dizem que o investimento deve ser dirigido para outros serviços na área de Saúde, como medicamentos, técnicos e formação.

O Presidente angolano anunciou no passado fim de semana que a cidade de Luanda vai ter nos próximos anos três novas unidades hospitalares para atender às necessidades dos cidadãos que procuram por serviços nas áreas de traumatismos, oftalmologia e oncologia e garantiu que "para a saúde haverá sempre dinheiro”.

Especialistas dizem que o investimento deve ser dirigido para outros serviços na área de Saúde, como medicamentos, técnicos e formação.

João Lourenço, que fez este pronunciamento no final de uma visita às obras do futuro Hospital dos Queimados, a ser erguido na Centralidade do Kilamba, anunciou a inauguração para breve de um novo Hospital Geral na cidade Caxito, a cerca de 60 quilómetros de Luanda.

Trata-se de uma tentativa para se estancar o recurso à capital do país dos doentes da província do Bengo, segundo o Presidente angolano .

Na sua conta no Facebook, o conhecido jornalista Graça Campos, interrogou-se se “haverá sempre dinheiro” somente para a construção de mega-hospitais, que, depois, quase não servem para nada porque lhes faltam medicamentos e técnicos em qualidade e quantidade suficientes.

"Os exemplos do Complexo Pulmonar D. Alexandre do Nascimento não ajudaram a refrear a obsessão pelo tamanho, em detrimento da qualidade?”, questionou.

Campos perguntou ainda ao Presidente da República se “nessa saúde, para a qual jamais faltará dinheiro, porque outras áreas serão prejudicadas, está incluído o saneamento básico, a alimentação saudável, formação e refrescamento de médicos, enfermeiros e outros agentes intervenientes ?”.

Almeida Pinto, do Sindicato Nacional dos Enfermeiros, defende que a construção de novas infra estruturas hospitalares fará sentido de for acompanhada do pagamento de bons salários para garantir a humanização dos hospitais que já existem.

“À medida que se projetam novas unidades hospitalares também deve-se pensar na qualificação do homem”, acrescenta aquele sindicalista que também entende que “a humanização só será possível quando o salário for real”.

O especialista em saúde pública Maurilio Luiele manifesta-se defensor da potenciação do funcionamento da rede primária de saúde ao invés da aposta na intervenção e construção de grandes hospitais.

“Sem que a rede periférica de saúde funcionem em condições, nós continuaremos nós continuaremos a assistir a sobrecarga nos hospitais do nível terciário que, para piorar, não estão dotados do número de especialistas suficientes para atender os diferentes serviços”, sublinha o também ministro da Saúde do “Governo de sombra” da UNITA.

O Presidente angolano assegurou que as futuras obras tanto para oncologia como para traumatismo vão localizar-se no Bairro do Palanca, Município do Kilamba Kiaxi, arredores do Complexo Hospitalar de Doenças Cardio-Pulmonar, Cardeal Dom Alexandre do Nascimento e que estava por se definir o local onde será erguido o projecto Oftalmológico.

Segundo João Lourenço, a aposta num hospital especializado em atendimento emergencial de acidentes, fraturas e outras ocorrências de traumas deve-se aos “muitos acidentes rodoviários” que têm atingido sobretudo a juventude.