Zimbabweanos Votam no Sábado

Os zimbaweanos vão às urnas no próximo sábado, tendo como pano de fundo uma economia em colapso. De acordo com as agências internacionais de ajuda, o fracasso do sector agrícola deixou grande parte dos zimbabweanos em risco de morrer de fome. O desemprego está generalizado. A inflação é a mais alta do mundo. Não obstante, no meio de todos estes problemas, o eleitorado terá agora que escolher entre três personalidades, uma das quais irá liderar o país rumo ao futuro. Os candidatos são o actual presidente Robert Mugabe, o líder da oposição Morgan Tsvangirai e o candidato independente Simba Makoni. Mas, muitos zimbabweanos e a comunidade internacional estão preocupados de que estas eleições não serão, nem livres nem justas.

Netsai Mlilo, é uma repórter independente sediado em Bulawayo. Ela afirma que a situação foi de mal para pior, nos últimos anos: “É muito difícil. No momento em que vos falo estou a usar velas como iluminação porque não há energia eléctrica. Não posso cozinhar. E quanto há energia eléctrica, há muito pouco para cozinhar. A farinha de milho é a nossa principal alimentação e é muito difícil de obter. As pessoas passam dias e dias nas filas de espera para comprar farinha de milho. Outros produtos básicos, como açúcar e sabão, não se encontram nas prateleiras dos supermercados.”

É num contexto de sofrimento generalizado que estas eleições têm lugar. Sydney Masamvu, do grupo Crise Internacional, atribui as culpas da situação às políticas do presidente Robert Mugabe: “Em circunstâncias normais, não haveria qualquer hipótese de Mugabe ganhar estas eleições”.

Mas, o presidente, de 84 anos, que tem governado o Zimbabwe desde 1980, responsabiliza o “Ocidente” pela crise no seu país. Mugabe afirma que os americanos, os europeus e sanções aplicadas contra o seu país geraram a crise, muito embora, nem os EUA nem a Europa tenham aplicado sanções económicas contra o Zimbabwe. Mugabe mantém, no entanto, que o Ocidente se está a vingar pelo facto de ele ter retirado as propriedades aos agricultores brancos.

Em eleições anteriores, apoiantes da oposição foram espancados e mandados para a cadeia. Em Harare, o líder cívico Mike Davis, prevê que a situação se poderá repetir: “Há preocupações crescentes relativamente aos incidentes de violência e repressão. E esperamos o mesmo nível da habitual de intimidação e violência”.

Briggs Bomba, um antigo líder estudantil no Zimbabwe, concorda com aquela afirmação: “Há muitos actos de intimidação. E a violência que vimos no passado deixou má memória na mente das pessoas. O sistema jurídico favorece o regime. O governo criou uma enorme burocracia que faz com que é muito difícil para as pessoas possam observar livremente o processo eleitoral”.

Nos comícios da ZANU-PF, Mugabe chamou aos seus rivais “feiticeiros”, “criaturas de duas cabeças” e “prostitutas”. Sydeney Masamvu afirma que semelhante linguagem, nos dias finais da campanha eleitoral, “é muito perigosa”: “ Está a criar-se um ambiente que favorece a violência contra os opositores de Mugabe e resume o que dele se pode esperar ou de uma pessoa que está agarrada ao poder e que não tem uma mensagem positiva para deixar para a posteridade.”

O presidente Mugabe argumenta que a “acção”,por vezes, necessita de ser tomada contra elementos da oposição que, diz ele, estão a “destabilizar” o país. Mas, Netsai Mlilo, afirma que as forças de segurança do Zimbabwe têm evitado que apoiantes da oposição tenham participado na campanha eleitoral.

Bredan Murphy é o chefe do serviço da VOA que transmite para o Zimbabwe. Diz ele que o zimbabweano médio não vê estas eleições como um caminho para a democracia, mas simplesmente como um passo dado na direcção de algo melhor.