Um antigo espião soviético encarregado dos contactos com o primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, escreveu um livro de memórias. Nele revela que Moscovo apoiava os Acordos de Alvor, mas mudou de ideias praticamente na véspera do 11 de Novembro de 1975.
Oleg Najestkin recorda o seu primeiro encontro com Agostinho Neto em 1961, em Leopoldville. Neto acabara de fugir de Portugal com a ajuda do Partido Comunista.
O agente do KGB recorda que, anos mais tarde, na véspera da declaração de independência de Angola, foi a Luanda com a missão de persuadir Neto a fazer as pazes com Holden Roberto, da FNLA, e Jonas Savimbi, da UNITA.
Mas na longa viagem entre Moscovo e Luanda, a posição soviética mudou. Inicialmente Moscovo apoiava os acordos de Alvor, para não aumentar as tensões da Guerra Fria. Mas de repente decidiu apoiar apenas o MPLA.
Para além de uma luta de poder nos bastidores do poder soviético, que se deslocou a favor do MPLA, havia uma questão prática. É que, por altura da independência, as tropas cubanas – segundo o espião – já se encontravam em Angola
Oleg Najestkin diz que na reunião com Agostinho Neto o presidente angolano lhe pediu armas de infantaria para armar os cubanos e lhe assegurou que, e citamos o espião soviético, “as autoridades portuguesas em Angola compreendiam a situação”.
José Milhazes, um jornalista português em Moscovo, já leu o livro do espião. Escute o seu depoimento aqui.