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Radar Magrebe Lusófono #18: Cabo Delgado no contexto da "Nova" Guerra Fria


Lavrov, chefe da diplomacia da Russia
Lavrov, chefe da diplomacia da Russia

Cabo Delgado no contexto da “Nova” Guerra Fria, que afinal nunca acabou. Artigo do Politólogo e Arabista da VOA, Raúl M. Braga Pires.

A passagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, por Maputo, por poucas horas que tenham sido, asseguram-nos duas realidades. A primeira, a de que a Guerra Fria acabou nos livros, mas nunca na prática e, a segunda, que a chamada Dívida Oculta (2 mil milhões de dólares, só da Ematum), se tornou numa grande oportunidade para colocar Moçambique num centro geodésico de disputa de influência, para já entre americanos e russos, aguardando-se uma movimentação chinesa para breve.

Recordando e resumindo, os avanços americanos têm em Eric Prince, o fundador da Blackwater, o seu principal actor, o qual já explora parte da frota pesqueira da Ematum, Proindicus e MAM, cobrindo assim parte da dívida e abrindo a porta a uma potencial negociação com o Governo de Moçambique para a instalação da AFRICOM (Base Militar Americana de Comando Central para África), de preferência em Cabo Delgado/Pemba, “Província Petroleira” com fronteira com a Tanzânia e cujo recente surto jihadista, nos deixou a todos alerta. No entanto, Nacala, mais a sul, na Província de Nampula, também tem potencial e tradição, já que foi uma das principais bases aéreas dos portugueses e da FRELIMO no pós-independência, com MIG’s 21 e Conselheiros soviéticos.

Quanto aos russos, o MNE Lavrov, em tourné africana (em simultâneo decorre também a tourné africana de Rex Tillerson, o seu homólogo americano), jogou várias cartas na sua passagem por Maputo. Desde logo, o Banco VTB, que em Davos demonstrou interesse e disponibilidade para negociar a dívida moçambicana, injectou 535 milhões de dólares na referida MAM, onde Prince também tem interesses. O mesmo banco dá a entender, pelas declarações vagas de ambas as partes, que a dívida que Moçambique teria junto desta instituição bancária russa, está sanada. Foram todos parcos sobre este assunto, evitando-o até. Por outro lado, foi reforçada a intenção, não poderia aliás ser de outra forma, de a russa Rosneft, integrada no Consorcio ExxonMobil, programar para breve o início da exploração offshore de hidrocarbonetos, na costa norte de Moçambique.

Como remate final e na senda do pragmatismo russo, foi anunciado também um reforço da cooperação militar entre os dois países, no combate ao surto de terrorismo islâmico que assolou o norte do país, precisamente onde a Rosneft irá operar, com todas as outras (ExxonMobil, Eni, Anadarko). Este binómio Produção/Segurança, permite um manancial de oportunidades, sobretudo ao nível do comércio de tecnologias e formação/treino de guerra, como ao nível do comércio de tecnologias e formação de quadros na produção de gás e petróleo, mais-valias que ficam sempre no país produtor.

Está aberta uma corrida à exploração de gás, numa região que poderá catapultar Moçambique como 4º maior produtor mundial desta commodity. Falta perceber a posição da China, nesta matéria, a qual se tem mantido discreta até ao momento, dando a entender que prefere ficar em terra e continuar a explorar outra mercadoria preciosa, a madeira, bem como continuar a apostar no sector da construção, onde há muito que bate qualquer tipo de concorrência.

http://www.bragapiresraul.pt

Politólogo/Arabista/Colaborador VOA/Radar Magrebe

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