Notícia recente na imprensa sul-africana, dava conta de 90 guerrilheiros bem treinados do “estado islâmico”, terem infiltrado o norte de Moçambique e rumar em direcção à Nacala, principal porto no norte do país.
Há suspeitas de passar por aquele porto muita droga, sendo este o objectivo principal desta investida, de acordo com a mesma imprensa (ainda disponível em lowvelder.co.za).
As autoridades moçambicanas desmentiram de imediato tal facto.
Num segundo ponto, a notícia sugere a possibilidade destes islamistas cerrarem fileiras lado-a-lado com a Renamo, numa frente comum contra a Frelimo.
Pura desinformação. Por quê?
Em primeiro lugar, porque a importância de Nacala para a Frelimo é vital. É aí que se encontra, por exemplo o scanner dos contentores, gerido pela empresa Kudumba Investements Lda, a qual terá ligações óbvias ao Poder e ao aparato securitário do Estado.
Por outro lado, Nacala é também vital, não apenas para a economia Moçambicana, mas também para a economia e sobrevivência de outros países do interior de África, que dependem deste porto marítimo para os seus aprovisionamentos, como são o caso do Malawi e da Zâmbia.
Nacala também tem um aeroporto novo, pelo que o conjunto destes factores, fará desta zona norte do país, um local onde a presença militar, policial e de intelligence, não permitirão que uns Flinstones quaisquer venham por ali abaixo e tomem conta da “pedreira”!
Em segundo lugar, um hipotético alinhamento entre o “Estado Islâmico” e Renamo é apenas pornográfico aos olhos dos islamistas.
Por outro lado são conhecidas as tentativas dos estados tentarem a todo o custo colar movimentos separatistas a grupos terroristas religiosos. Foi assim num dos muitos momentos de ingenuidade dos atentados de Attocha, em Madrid, alvitrando-se uma aliança entre ETA e Al-Qaeda. É assim com Marrocos a querer colar a todo o custo a Polisario ao AQMI e mais recentemente ao Hezbollah. É assim no norte do Mali com os tuaregues “colados” aos islamistas. E assim parece ser, caso esta mentira seja repetida inúmeras vezes, criando a ilusão de que a Renamo está colada ao “estado islâmico”, criando também condições para que o Processo de Paz não avance, condicionando a realização das eleições e/ou influenciando os resultados.
Em resumo e, do ponto de vista lógico, esta notícia tratou-se de uma brincadeira, uma desinformação, a qual apenas se suspeita a quem beneficiará.
EMATUM/TUNAMAR
Assinalar o facto, também recente, de a EMATUM (uma das empresas da “Dívida Oculta”), ter dado origem a uma nova Sociedade, a Tunamar, ao abrigo de uma parceria com a empresa norte-americana Frontier Service Group, cujo Presidente é o americano Erik Prince, fundador da Blackwater. Sobre este assunto, remeto a leitura para o Radar Magrebe Lusófono #11, no qual ficou registado um resumo sobre o último trimestre de 2017, a partir dos ataques de 05 de Outubro em Mocímboa da Praia.
EU/Guiné-Bissau
A União Europeia, após várias pressões, ameaças e demonstração de dúvidas sobre os caminhos do processo político na Guiné-Bissau, declarou estar preparada para estar presente, colaborar e, certamente financiar, as eleições legislativas previstas para 18 de Novembro. Uma boa notícia, após finalmente ter-se chegado a acordo para a constituição de um Governo inclusivo, o qual terá como prioridade para os próximos seis meses a realização destas mesmas eleições, prementes para que este país lusófono volte ao registo constitucional da normalidade democrática e saia, em definitivo, do limbo de um Estado pré-pária, onde tem ficado suspenso nos últimos 4 anos.
Marrocos/Irão
O 1º de Maio deste ano fica marcado pelo corte de relações diplomáticas entre Marrocos e o Irão, sendo que os primeiros acusam o Hezbollah de armar e treinar os militares da POLISARIO. De assinalar que o mesmo já tinha acontecido em 2009, a propósito do apoio dado por Marrocos ao Bahrein, de maioria xiita, mas com Poder exclusivamente saudita/sunita.
Politólogo/Arabista/Colaborador VOA/Radar Magrebe