O arranque das emissões da Rádio Ecclesia fora de Luanda, já em fase experimental em seis províncias angolanas, resulta do novo momento político no país, que traz a exigência de um ‘’perfil editorial pela verdade’’, considera o padre Zeferino Passagem, director da estação radiofónica no Moxico.
Com a rádio da Igreja Católica em regozijo, mesmo ciente das limitações em termos de quadros, a Despertar, afecta à UNITA, queixa-se de obstáculos na luta pela expansão do seu sinal por Angola.
No Moxico, uma das províncias com emissões experimentais, o padre Zeferino Passagem diz esperar que a aludida abertura proporcionada pelo Governo de João Lourenço seja duradoura na coabitação com um jornalismo comprometido somente com a verdade.
Integrante de equipas que trabalharam para acabar com as divergências entre o MPLA e a UNITA em 2001, quando as relações entre o poder e a Igreja Católica conheciam vários sobressaltos, o prelado lembra, aliás, que a Ecclésia deixou de ser associada à oposição’’.
“Hoje é o contrário, surgimos numa nova época, com os órgãos públicos também num perfil pela verdade, não escondem nada. Nós, para lembrar, éramos vistos como rádio da oposição. Agora, mais do que o entusiasmo dos jovens que vão trabalhar, precisamos de homens que apostem na verdade. Os órgãos públicos, a rádio, a TPA e os jornais, já dizem o que nós dizíamos’’, sustenta Passagem.
À boleia desta liberdade, a Rádio Despertar, produto dos acordos de paz entre o Governo e o ‘’galo negro’’, quer eliminar barreiras e chegar a todas as províncias, segundo o presidente do Conselho de Administração, Fernando Monteiro.
“São 11 anos de luta, mas sem que consigamos a nossa personalidade jurídica. Estamos a encontrar barreiras, prefiro não falar em barreiras políticas ou técnicas, mas não conseguimos o objectivo. A expansão do sinal começa com a personalidade jurídica’’, refere o administrador.
O jornalista Jaime Azulay, analista político, lembra a presença da Igreja Católica nos bons e maus momentos de Angola e sublinha que deve haver mais ‘’rádio de confiança’’ para lá da promessa do Chefe de Estado.
“Não se cumpre só o desiderato político da promessa feita pelo Presidente da República. A Rádio Ecclésia deve ser um veículo de promoção do bem, trabalhar na educação cívica e na melhoria da qualidade de informação, algo a que os cidadãos têm por direito. A Igreja, pela responsabilidade histórica e social, deverá saber aproveitar esse vector’’, sustenta Azulay.
Apesar das emissões experimentais, também nas províncias de Benguela, Malange, Bengo, Lunda Sul e Huíla, Governo e Igreja Católica continuam a fazer acertos.
Talvez por isso, o director-geral da Ecclésia, padre Maurício Camuto, tivesse optado por não conceder entrevista à VOA.