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Produção alimentar aumenta em Angola, mas fome persiste


Grande percentagem da produção apodrece na origem por falta de escoamento

Angola, um dos países que mais sofreram com a insegurança alimentar aguda em 2022, segundo um relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM), perde até 40 por cento da sua produção agrícola anual por falta de escoamento para os grandes centros de consumo, onde prevalecem sinais de fome, indicam levantamentos feitos pela Voz da América.

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Mesmo com a produção a crescer 5% anualmente, conforme dados oficiais, há um défice de milhares de toneladas dos principais produtos da cesta básica, de acordo com estudos da consultora internacional Deloitte.

O padre Pio Wacussanga, ativista da Plataforma Sul, refere que milhares de angolanos estão a braços e até mesmo com fome crónica, ainda que exista uma ou outra iniciativa isolada para tentar colmatar isso.

Pio Wacussanga diz ser “claro que parte desta produção se deteriora, apodrece”, e que há “muita gente mesmo em insegurança alimentar.

"Temos a fome mais aguda, o grau menos agudo e o grau crónico, muita gente, (em) quase todo o Sul de Angola”, sustenta.

Aquele religioso e activista termina alertando que “solicitamos a designação de estado de emergência, um apoio regular em termos de cesta básica às famílias afectadas, até agora nem uma coisa nem outra”.

O lixo, alternativa de muitos angolanos que procuram contornar a fome, acaba por ser o destino de parte considerável da produção nacional.

O ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, ao defender a necessidade de aproveitamento de produtos nacionais, apresentou elementos que ajudam a perceber o cenário de paradoxo num país que regista aumentos na produção.

O governante disse que a produção “aumenta cinco por cento todos os anos, mas o problema é que 30 a 40 por cento degradam-se no seu processo logístico, de acesso ao mercado”.

O relatório do Ministério da Agricultura e Florestas relativo à campanha agrícola 2021/22, o último disponível, indica que o país produziu, em cinco fileiras, com realce para os cereais e hortícolas, cerca de 24 milhões de toneladas, a esmagadora maioria no sector familiar.

O documento a que a Voz da América teve acesso não faz menção aos produtos que apodrecem por falta de escoamento, mas o produtor Cabral Sande acredita que os números avançados pelo ministros sejam verdadeiros e sublinha que este é um indicador de que o Governo deve melhorar o programa das 500 carrinhas para o escoamento da produção, sem perder de vista o estado das estradas.

“(As carrinhas) não foram todas distribuídas, foi mais para colorir o programa eleitoral, nem sabemos se já estão todas aqui”, diz.

"O programa não foi muito bem gizado, sobretudo porque muitas foram distribuídas a indivíduos que nada têm a ver com o campo”, sustenta Sande, acrescentando que “eles estão a rentabilizar as viaturas mas em proveito próprio, transportando a partir das fazendas, longe do escoamento que deve ser feito a partir das zonas inacessíveis”.

Dentro de poucas semanas, arranca a campanha agrícola 2023/2024, quando ainda são aguardados os resultados anteriores, com o país a registar um défice anual de 9,7 milhões de toneladas na cesta básica, com realce para o milho, arroz, feijão, trigo e soja, indicam estudos da consultora Deloitte tornados públicos há duas semanas.

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