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Organizações de defesa de jornalistas alertam para o risco de silenciamento de rádio em Manica


Locutora da Rádio Comunitária do Grupo de Educação Social de Manica (GESOM), Chimoio, Manica, Moçambique
Locutora da Rádio Comunitária do Grupo de Educação Social de Manica (GESOM), Chimoio, Manica, Moçambique

Rádio Comunitária Gesom é um dos primeiros projetos de rádio implantados pela UNESCO, no centro de Moçambique.

Organizações sindicais e de defesa de jornalistas alertam para o risco do “silenciamento da imprensa”, com a ordem dada pelo município de Chimoio (Manica) para a demolição das infraestruturas da Rádio Comunitária Gesom, um dos primeiros projetos de rádio implantados pela UNESCO, no centro de Moçambique.

A ordem verbal de demolição, emitida pelo Conselho Autárquico de Chimoio através do diretor da Feira, cujo prazo de execução era 30 de Outubro, abrange o edifício onde se encontram a funcionar a central técnica e o centro multimédia, bem como da torre de transmissão da Rádio Comunitária do Grupo de Educação Social de Manica (GESOM), uma rádio que está no ar a 21 anos.

A medida, segundo apurou a VOA, está no âmbito da requalificação do espaço urbano, que prevê substituir as infraestruturas do recinto da antiga Feira Popular de Manica (FEPOM) por um centro comercial, ao abrigo de uma parceria público-privada.

Rádio Comunitária do Grupo de Educação Social de Manica, Moçambique
Rádio Comunitária do Grupo de Educação Social de Manica, Moçambique

Sérgio Silva, coordenador-geral da GESOM, entende que a demolição das infraestruturas na rádio vão calar uma “prestigiada rádio comunitária”, que sempre pautou por independência editorial e valorizou o pluralismo de opinião comunitária.

“Não se pode acordar um dia e dizer vou partir uma rádio. Uma rádio histórica que serve a comunidade. O município quer partir o que lhe serve”, afirma Sérgio Silva, numa breve declaração à Voz da América por telefone.

O também fotojornalista, que mais documentou as visitas de Samora Machel a Manica e o regresso das populações às zonas de origem após o fim da guerra civil, diz que a demolição da rádio “é muita humilhação e um atentado contra a liberdade das populações”.

Já o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), que já tinha conseguido impedir a continuidade das obras do centro comercial há quatro meses, observa que a demolição da central técnica, da torre de transmissão e do centro multimédia, sem quaisquer indemnizações e nem perspetivas de transferência da rádio, pode resultar no fim da emissora e marginalizar 25 locutores e jornalistas da estação.

“Essa situação é preocupante, tendo em conta que não foi salvaguardada nenhum direito à Rádio Gesom, tendo por isso o sindicato já movido uma ação na justiça, concretamente para o Ministério Público para o embargo dessa demolição”, reforça Nelson Benjamim, porta-voz do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) em Manica.

“Precisa ser repensada esta ordem porque não pode ficar afetado o direito à informação às comunidades por causa de alguns interesses económicos”, precisou, lembrando que o sindicato e vários órgãos de defesa de jornalistas vão conduzir o caso até às últimas consequências.

Em comunicado, o Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM), condenou a ordem de demolição da rádio, anotando que a atitude é uma “autêntica manifestação de abuso de poder”,

A Voz da América contctou o presidente do Conselho Autárquico de Chimoio (CAC), através do seu gabinete de imagem, e a Procuradoria da República em Manica, que prometeram se pronunciar oportunamente.

A Feira, onde funcionam as instalações da Rádio, foi uma referência nacional da maior exposição agropecuária e industrial, que juntava anualmente empresários nacionais e estrangeiros para exporem vários produtos agrícolas.

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