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Negócios de João Lourenço e aliados investigados nos EUA, diz consultora em alta finança


João Lourenço e Ana Dias Lourenço, numa actividade do MPLA em Luanda (Foto de Arquivo)
João Lourenço e Ana Dias Lourenço, numa actividade do MPLA em Luanda (Foto de Arquivo)

Procuradores investigam há um ano transações de Lourenço, primeira dama e próximos que podem ter violado as leis dos Estados Unidos

O Presidente angolano João Lourenço está a ser investigado há um ano por procuradores americanos que acreditam ter provas de violações da legislação dos Estados Unidos por parte de Chefe de Estado, família e parceiros de negócios.

A informação é avançada pela consultora especializada em análise de gestão de riscos em África e no Médio Oriente, a Pangea Risk, segundo revela nesta segunda-feira, 15, o jornal português Expresso.

“Sob a nova Administração de Biden, a investigação dos EUA está a avançar e poderá visar bancos angolanos, empresas e offshores para recolher mais provas que podem afectar as relações de Angola com instituições multilaterais, de cujo crédito o país se tornou crescentemente dependente”, diz o relatório, que avança que os procuradores “têm estado a compilar durante quase um ano provas de violação das leis e regulamentos dos EUA pelo Presidente João Lourenço, a sua família e parceiros de negócio”.

Além do Presidente, os procuradores têm debaixo dos olhos a primeira-dama angolana, Ana Afonso Dias Lourenço, que é accionista da agência de comunicação Orion, citada no relatório, o advogado e homem forte do MPLA Carlos Feijó, o ministro da Energia, João Baptista Borges, o antigo vice-presidente Manuel Vicente, e os empresários Carlos Cunha e Valdomiro Minoru Dondo.

As suspeitas, segundo o relatório do Pangea Risk, recaem em “alegadas violações do FCPA - Foreign Corrupt Practices Act”, a legislação norte-americana sobre a corrupção de funcionários públicos americanos no exterior.

Os investigadores têm centrado a sua acção em “transações bancárias ilegais, fraudes bancárias para a compra de imóveis nos Estados Unidos, e uma conspiração para defraudar o Departamento de Justiça dos EUA pela família Lourenço”.

A empresa fundada pela primeira dama

O jornal Expresso, que cita a Pangea Risk, escreve que parte das suspeitas envolvem a empresa brasileira Odebrecht e subornos “que terão sido pagos pela construtora a empresas controladas por João Lourenço, a sua mulher e parceiros de negócio próximos”.

Documentos entregues ao Tribunal de Nova Iorque, em 2017, indicam que a Odebrecht pagou à Orion, empresa fundada por Ana Lourenço e pelo banco Sol, uma soma de 20 milhões de dólares.

“A investigação também está a olhar para suspeitas de transações fraudulentas feitas por outras empresas controladas por Lourenço, incluindo a empresa de contratação militar Simportex EP, vários bancos, empresas de construção e sociedades sob o seu controlo”, ainda de acordo com a consultora.

Dólar e bancos americanos

Em grande parte, os procuradores procuram descobrir transações que envolvem interesses norte-americanos, como o uso do dólar e de bancos com sede nos EUA, o envolvimento de empresas americanas, bem como imóveis e outras compras feitas nos EUA pela família Lourenço.

“Outras irregularidades sob investigação incluem viagens suspeitas aos EUA, a contratação irregular de empresas norte-americanas de lobby, acumulação de património nos EUA e uma conspiração para defraudar o Departamento de Justiça dos EUA”, acrescenta o relatório da consultora que destaca que “a investigação está, portanto, a tentar provar que Lourenço e o seu Governo não só estão a violar as leis de Angola, mas também as leis e regulamentos dos EUA”.

O Pangea Risk apresenta uma radiografia das empresas públicas e privadas de algum modo ligadas ao círculo mais próximo de João Lourenço, entre elas as empresas de construção Angoprojectos, Sotal, Engetech, Locomague e Omatapalo, a estatal Simportex, a imobiliária Imogestin, bem como a Companhia de Cervejas de Angola, a agência de comunicação Orion, os bancos Sol e BAI.

A consultora lembra que, caso a investigação confirmar as suspeitas, ela “pode diminuir a capacidade de Angola manter acesso a financiamento multilateral e reestruturar com sucesso o pesado farto de dívida”.

Refira-se que a Pangea Risk tem entre os seus clientes o Afreximbank, o Banco Africano de Desenvolvimento, a petrolífera Chevron, as francesas Axa e BNP Paribas, o Banco Europeu de Investimento, entre outras importantes instituições da alta finança.

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