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Nampula "sofre" com desvio de medicamentos


Medicamentos em farmácia de Manica, Moçambique
Medicamentos em farmácia de Manica, Moçambique

Observatório do Cidadão para a Saúde destaca a falta de coordenação entre os armazéns de medicamentos e as farmácias e a má conservação dos mesmos.

Utentes das unidades sanitárias na cidade de Nampula, na província moçambicana de mesmo nome, têm estado a recorrer às farmácias privadas para adquirir medicamentos receitados pelos profissionais de saúde do sistema público devido à falta de produtos nas farmácias hospitalares.

Alguns ouvidos pela Voz da América apontam como causa para esta situação um esquema de comércio ilegal de medicamentos, que prejudica principalmente as pessoas de baixo rendimento.

Nampula "sofre" com desvio de medicamentos
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Selma Ribaue, residente na cidade de Nampula, contou que teve de regressar à casa com receita médica e recorrer a uma farmácia privada porque o Hospital 10 de Maio não ter os medicamentos receitados.

Ela afirma que esta é uma situação comum.

“Os pacientes vão, marcam as consultas, mas só voltam para casa com receitas. As pessoas estão com malária, estão com outras enfermidades, mas as farmácias têm falta de medicamentos e as pessoas não têm condições para adquirir os medicamentos nas farmácias privadas. Imagine, uma receita na farmácia pública custa cinco meticais e no privado custa três a quatro vezes mais, é muito caro”, diz Selma.

Outra utente, Lizete Adriano, acredita que os medicamentos podem estar a ser desviados já que são colocados nos hospitais, mas acabam muito rapidamente.

“É normal ir-se ao ao hospital se tiver sorte e conseguir um paracetamol, mas outro vai dizer que não tem, por isso para mim os medicamentos estão a ser desviados”, conta Adriano.



O diretor províncial de Saúde de Nampula, embora reconheça o impacto da falta de medicamentos na população , afirma que a falta de medicamentos pode ser resultado da demora na requisição e entrega.

Fernando Mitano garante, no entanto, que a província tem disponíveis medicamentos para até três meses.

“Temos tido algum desvio de medicamentos do sistema por nossos colegas, algumas vezes essa situação de desvio pode fazer com que não haja medicamentos, nós já tivemos casos de desvio em Malema, Angoche e Murrupula, mas a solicitação tardia e a organização ao nível do centro de saúde também podem interferir na existência", reconhece Mitano.

Para o Observatório do Cidadão para a Saúde, há vários fatores que contribuem para a falta de medicamentos nas unidades sanitárias e têm a ver com a disponibilidade dos recursos para responder à demanda populacional, particularmente de Nampula, o desvio de medicamentos, a má gestão em que nota-se a falta de coordenação entre os armazéns de medicamentos e as farmácias e a má conservação.

António Mathe, coordenador do Pilar de participação pública daquela Observatório, defende que umas das ações que vai ajudar a resolver o problema da falta de medicamentos nas unidades sanitárias públicas será a complementaridade entre os hospitais, gestores hospitalares para que a população não fique prejudicada.

Para o efeito, Mathe aconselha que “feita a prescrição médica, se na farmácia dessa unidade sanitária não tiver medicamentos, tem a obrigação de indicar a unidade sanitária que tem disponível o medicamento que está em falta, o que significa que tem de haver um trabalho de complementaridade entre as unidades sanitárias, entre os gestores hospitalares para que os utentes não fiquem sem medicamentos".

Antonio Mathe prossegue dizendo ser preciso que "haja informação prévia sobre ausência de alguns medicamentos e também informar quando o medicamento estará disponível para o utente não ficar prejudicado porque sabemos que a maioria da população não tem condição para ir à farmácia privada”

Aquele responsável entende ser preciso que se façam reformas no setor de saúde, especialmente no que toca à política de medicamentos, visando também incluir fármacos de doentes crónicos, pessoas com deficiência e com necessidades especiais, uma vez que este constitui um grupo que paga muito caro para ter acesso a medicamentos em farmácias privadas.

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