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Moçambique: "Tolerância de ponto tem fins eleitoralistas", dizem analistas


Segundo um estudo do empresariado moçambicano, cada feriado custa seis milhões de dólares.

Em Moçambique, economistas dizem que as excessivas tolerâncias de ponto que nos últimos dias têm sido decretadas pelo Governo são uma medida demagógica, que visa atenuar as críticas da população à governação e constitui uma acção de natureza eleitoralista, visto que o país vai realizar eleições legislativas e presidenciais em Outubro próximo.


Os empresários em Moçambique vieram a público, na semana passada, dizer que o país tem bastantes feriados e, "como se isso não bastasse, nos últimos tempos tem havido também muitas tolerâncias de ponto"

Para o economista Ragendra de Sousa, o excessivo número de feriados e sobretudo as tolerâncias de ponto decididas ad hoc prejudica as indústrias que são forçadas a muitas interrupções, apontando como exemplo as fábricas de cimento cujos fornos levam 36 horas a aquecer para produzir.

Pelo mesmo diapasão atinou Adolfo Correia, da Tropigália, para quem, “qualquer dia que nos interrompa o ciclo normal produtivo, o qual esteja antecipadamente planeado, obviamente que tem impacto negativo na nossa estrutura empresarial”.

O economista e professor universitário João Mosca diz que os feriados devem obedecer a critérios de um país que os define, sejam nacionais, sejam de origem religiosa ou outra.

“Isso tem que ser estabelecido previamente. Penso que os feriados ou tolerâncias de ponto decididos um pouco ad-hoc deviam ser evitados porque, muitas vezes, os critérios de decisão sobre uma tolerância de ponto, não são claros”, revela.

Segundo o académico, “tivemos tolerância de ponto depois do Ano Novo, dois dias, e agora tivemos uma tolerância de ponto para ver a tomada de posse dos novos edis eleitos. Penso que em nenhum destes casos, depois do Ano Novo e agora, existe uma razão forte que justifique uma tolerância de ponto”.

Estratégia de Campanha Eleitoral

Mosca referiu que estas medidas devem ser inseridas no quadro de uma tentativa de carácter demagógico, no sentido de atenuar as críticas da população. “Também devemos enquadrar isso numa perspectiva de meses, em que vai acontecer a campanha eleitoral para as eleições legislativas e Presidência da República”, acrescentou.

“Se isso é assim, parece-me que não é critério, porque se a governação quer tomar medidas para melhorar a sua imagem perante a população, não devia ser desta maneira; devia ser com acções concretas, com medidas acertadas, com decisões que levem em conta as preocupações dos cidadãos. Não me parece que seja uma boa opção este tipo de acções de natureza populista, demagógica e mesmo, possivelmente, eleitoralista”, sublinhou.

A Confederação das Actividades Económicas-CTA queixou-se, semana passada, do elevado número de feriados e das excessivas tolerâncias de ponto decretadas pelo Governo.

João Mosca diz que as preocupações do empresariado são legítimas, porque o país tem elevados níveis de pobreza e os níveis de produtividade da economia são baixos.

Na opinião do economista, em Moçambique houve uma forte politização de alguns dias que são considerados feriados, “mas estes já estão instituídos e talvez não fique fácil retirar esses feriados, porque são dias que em certos momentos da vida do país tiveram alguma importância ou têm ainda alguma importância. Penso que vamos deixar os feriados que já existem e vamos evitar as pontes, vamos evitar as passagens de feriados aos domingos para segunda-feira”.

Um estudo do empresariado moçambicano revela que cada feriado custa seis milhões de dólares e Moçambique tem quase uma dezena de feriados.
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