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Moçambique: Analistas alertam que os mais pobres vão sofrer muito sem ajuda do Governo


Vítimas do ciclone Idai num centro de acolhimento na Beira
Vítimas do ciclone Idai num centro de acolhimento na Beira

Em Moçambique, alguns analistas defendem a adoção de pacotes de emergência em apoio às pessoas mais pobres para evitar revoltas populares resultantes da implementação de medidas tomadas pelo Governo para conter a propagação do covid-19, tendo em conta os elevados índices de pobreza no país.

Moçambique: Analistas alertam que os mais pobres vão sofrer muito sem ajuda do Governo
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Um dos pacotes diz respeito ao pagamento único de segurança social para os trabalhadores informais inscritos e à duplicação dos pagamentos em termos de assistência social para as pessoas e agregados familiares que estão inscritos no Instituto Nacional de Segurança Social-INSS e aqueles que estão na lista de espera.

Esta proposta é do Centro de Integridade Pública (CIP), e visa, segundo a investigadora da instituição Celeste Banze, "criar incentivos para que as pessoas mais pobres, aquelas que, efectivamente, têm que sair de casa para procurar comida, fiquem em casa".

A investigadora defende que a adoção de medidas deve ter em conta o contexto de cada província porque "manter pessoas em casa na cidade de Maputo é totalmente diferente de manter pessoas em casa em Massinga, na província de Inhambane, por exemplo".

Forte impacto nos mais pobres

Para Celeste Banze, "esta é a altura de se ir avaliando os cenários e tomar medidas cautelosas, de modo a não criar outros problemas maiores, como pessoas morrerem de fome e estarem nas ruas à procura de comida".

Para o analista Fernando Lima, o problema fundamental é que o sistema de segurança social moçambicano abrange poucas pessoas.

Lima realça ser necessário fazer pacotes-extras de apoio a famílias mais pobres porque em Moçambique o emprego formal é muito minoritário, e mesmo dentro do emprego formal a seguraança social ainda não é uma rede ampla.

O jornalista refere que "se o Governo quiser aplicar essas medidas, tem que o fazer duma forma criativa que abranja outras famílias que não estão dentro da segurança social", acrescentando que isso já foi feito, o ano passado, na cidade da Beira, quando foi atingida pelo ciclone Idai.

Considera o analista que se o cenário de infeções se agravar, as pessoas mais pobres vão sentir ainda mais o aperto resultante das medidas previstas no estado de emergência decretado esta segunda-feira, 30, pelo presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

"Estamos perante uma situação de super desigualdades em que os mais pobres é que vão enfrentar a crise a dobrar e a triplicar. Esses pacotes de emergência têm que ser considerados, não para as pessoas da segurança social, mas para os outros", acrescenta.

"Se não resolvermos esse problema, o próximo passo é a revolta popular", destaca o também presidente do Conselho de Administração do grupo privado de conunicação social, proprietário do jornal Savana.

"Não imaginas como é que o bolso dos mais pobres terá que ficar elástico quando a cebola, por exemplo, passar de 300 para 600 meticais", frisa Fernando Lima.

Entretanto, o sociólogo João Colaço diz que o ideal seria fazer pacotes de emergência, como outros países, mas não sabe se o Governo moçambicano terá essa capacidade.

Ele sublinha que "isso seria o ideal, agora numa situação real, se o Governo teria capacidade para isso, é discutível, mas tudo é uma questão de racionalidade. Se há dinheiro para isso, o Governo poderia fazer à semelhança do que outros governos estão a fazer".

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