O escritor moçambicano Mia Couto considerou que o Governo deve adotar medidas para controlar a situação da Covid-19, pois há práticas que se vão manter para o futuro.
Como exemplos, Couto disse que o Estado deve investir para fortificar o sistema nacional de educação e saúde, em vez de deixar essa tarefa para os privados.
O Prémio Camões de Literatura, biólogo e membro da comissão que assessora do Executivo no combate à pandemia, falou na Conferência Científica sobre a Covid-19, organizada pelo Instituto Nacional de Saúde, que juntou especialistas de diversas áreas para refletir sobre a pandemia e os seus impactos, e que terminou nesta quinta-feira, 18, em Maputo.
A pobreza em Moçambique também foi tema de um relatório das Nações Unidas, divulgado nesta semana, que indicou o aumento de um milhão de pobres em três anos, devido à crise económica, ao escândalo da dívida oculta, às calamidades naturais e à violência.
Por seu lado, o Governo revelou que vai apoiar cerca de um milhão de pessoas vulneráveis que estão a ter um impacto nas suas vidas por conta do novo coronavírus.
A pandemia da Covid-19 está longe de passar à história e Moçambique prepara-se para conviver com o coronavírus que já regista 662 infectados no país.
“É preciso que se revejam as prioridades que é preciso dar, por exemplo a ideia desse modelo neo-liberal ou Estado fica emagrecido, o sistemas públicos ficam enfraquecidos porque o privado e que o mercado vai resolver não serve”, defendeu Couto.
Tempo de intervir
Numa altura em que já se cogita o regresso à normalidade, para Mia Couto é necessário que o país repense alguns sectores, como o da saúde e educação.
“Se você não tiver um sistema nacional de saúde ou um sistema nacional de educação forte, se você não tiver um Estado forte, você não é capaz de resolver nem este problema nem ou outros”, disse o escritor e biólogo, acrescentando que “o que se está a verificar agora, por exemplo, é que a maior parte das escolas não tem casas de banho e, portanto, se isso não se resolve e se está à espera que venham os privados e construam essa solução eles não vão conseguir fazer isso, a maior parte da população Moçambicana não tem os seus problemas básicos resolvidos”.
Ele concluiu ser “tempo para aproveitarmos e o mundo tudo está a repensar, acho que não é problema de Moçambique, é um problema do mundo todo e da economia mundial”.
Perto de três milhões de moçambicanos vivem em situação de vulnerabilidade, em 27 distritos do país com características áridas e semi-áridas.
Com a Covid-19, a vulnerabilidade destas pessoas aumentou e o Governo prepara-se para apoiar um milhão de pessoas, segundo o Minsitério da Economia e Finanças.
Vasco Nhabinde, daquele organismo, disse haver “uma modelação no Ministério da Economia e Finanças para identificar primeiro os distritos com maior vulnerabilidade e dentro dos distritos os bairros com maior vulnerabilidade através do índice de pobreza multidimensional,que permite fazer o seguimento até a base onde nós conseguimos identificar as famílias”.
Estima-se que 17 por cento da população moçambicana, de cerca de 28 milhões de pessoas, vivem em situação de vulnerabilidade.