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Libertação do herói do ‘Hotel Ruanda’ advém da resolução de uma discórdia diplomática


Em 2005, Paul Rusesabagina recebeu do presidente americano George W. Bush a Medalha da Liberdade, na Casa Branca
Em 2005, Paul Rusesabagina recebeu do presidente americano George W. Bush a Medalha da Liberdade, na Casa Branca

KIGALI, 25 de março (Reuters) - A libertação de Paul Rusesabagina de uma prisão em Ruanda, na noite de sexta-feira, foi o resultado de meses de negociações entre Washington e Kigali, com ambos ansiosos para colocar um ponto final no que descreveram como "irritante" para seu relacionamento.

Duas autoridades dos EUA - uma da administração do presidente Joe Biden e um assessor do Congresso - disseram que nenhuma concessão concreta foi feita para garantir a libertação de Rusesabagina, um residente permanente dos EUA que ficou famoso pelo filme 'Hotel Ruanda' de 2004, sobre o seu papel salvando tutsis durante o genocídio de 1994.

Ele foi detido em 2019 e posteriormente condenado por oito acusações de terrorismo decorrentes do seu papel de liderança no Movimento Ruanda pela Mudança Democrática (MRCD), cujo braço armado, a Frente de Libertação Nacional (FLN), atacou o país.

A sua detenção estremeceu as relações entre os dois países. Os EUA disseram que Rusesabagina foi detido ilegalmente, enquanto Ruanda se irritou com as críticas, dizendo que não seria intimidado.

Os EUA alocaram mais de US$ 147 milhões em assistência externa a Ruanda em 2021, tornando-se o maior doador bilateral de Ruanda.

"O governo dos EUA deixou claro para os ruandeses que isso continuaria sendo uma irritação bilateral até que pudéssemos chegar a uma solução mutuamente satisfatória", disse o funcionário do governo Biden, falando sob condição de anonimato.

Yolande Makolo, porta-voz do governo de Ruanda, disse que o caso era "irritante em ambas as direções".

"Depois de alguns falsos começos, o progresso começou a ser feito precisamente quando os EUA abandonaram a abordagem de 'pressão' e ameaças - e decidiram se envolver com Ruanda sobre a substância do assunto e seu contexto - violência política por grupos armados e a segurança de ruandeses", disse ela à Reuters.

Quando questionado sobre como os EUA se envolveram nessas questões, Makolo apontou para uma declaração emitida pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, após a libertação de Rusesabagina, enfatizando que a mudança política em Ruanda só deve ocorrer por meios pacíficos.

O assessor do Congresso dos EUA, que também pediu para não ser identificado, disse que as negociações foram avançadas por movimentos de Washington e do próprio Rusesabagina para reconhecer o ponto de vista de Ruanda.

Particularmente útil, disse o assessor, foi uma carta que Rusesabagina escreveu ao presidente de Ruanda, Paul Kagame, em outubro, na qual ele lamentava não ter garantido que os membros do MRCD evitassem a violência. O governo de Ruanda divulgou a carta na sexta-feira.

Mobilização do executivo

Antes que as negociações ganhassem força, um grande desafio para a família Rusesabagina e os membros do Congresso que defendiam a sua libertação era mobilizar toda a capacidade do poder executivo, disse o assessor.

Como cidadão belga de origem ruandesa com residência nos Estados Unidos, o caso de Rusesabagina "não se encaixa perfeitamente numa caixa", disse o assessor.

O ímpeto aumentou no ano passado, quando o governo Biden decidiu em Maio de 2022 que Rusesabagina havia sido detido injustamente.

Blinken encontrou-se com Kagame durante uma visita a Ruanda em Agosto, no qual as autoridades dos EUA disseram que o caso foi amplamente discutido.

Outra oportunidade para discussões surgiu durante a Cimeira EUA-África em Washington em Dezembro.

No entanto, Kigali continuou a adoptar uma linha dura, com Kagame sugerindo à margem da referida cimeira que apenas uma invasão ao Ruanda poderia forçar a libertação de Rusesabagina.

O primeiro grande sinal público de abrandamento veio numa entrevista com a agência de notícias online Semafor, há menos de duas semanas. Kagame disse que havia discussões sobre "resolver" o caso.

Na sexta-feira veio o anúncio de que a sentença de Rusesabagina havia sido comutada.

Ele foi transferido horas depois da prisão de Nyarugenge para a embaixada do Qatar. Ele permanecerá no Ruanda por alguns dias antes de viajar para Doha e depois para os Estados Unidos, disseram as autoridades americanas.

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