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Juventude "perdeu-se no consumismo" dizem analistas angolanos


Analistas alertam para os excessos nas celebrações dos jovens por ocasião do dia de São Valentim, o santo dos casais e namorados apaixonados.

Exibicionismo, luxúria, materialismo e competições na troca de presentes entre quem dá o melhor e mais caro são as marcas mais visíveis das celebrações do 14 de Fevereiro em Luanda. Carros, casas, roupas, calçados, viagens ao estrangeiro e telefones de última geração são os presentes mais exibidos nas redes sociais, alguns até com direito a cobertura da media digital.

Celebração do 14 de fevereiro - Juventude perdeu-se no consumismo
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O Pastor Francisco da Costa fala em perda da essência e do sentido das celebrações do dia de São Valentim, pois que, a data é mais marcada pelo sentimento de consumismo e menos pelo sentimento do amor e de afecto mútuo entre os casais.

Para o missionário, "os jovens colocaram no lugar do amor e do afecto os bens materiais dos quais estão mais preocupados em desfrutar de bens materiais perdendo assim a ética, a moral, os sentimentos nobres para uma relação amorosa duradoura e com princípios que devem resultar na formação de famílias sólidas e com valores".

Os jovens estão mais preocupados em gastar em gastar e não levam em conta nas suas relações aquilo que orienta a lei de Deus, acrescentou.
Para além do sentido competitivo, a celebração do dia dos namorados tornou-se numa questão comercial, diz a radialista Delfina Muto para quem há uma incessante busca do ter, ignorando-se o ser na sociedade angolana onde os padrões morais e éticos estão invertidos.

"Esta sociedade agora está padronizada. Agora com a febre dos telefones, só vale quem tem o telefone tal, só vale quem tem a peruca tal, se não tiver não fica naquele ambiente ou grupo de amizades. As pessoas, sobretudo a juventude, vem-se colonizadas e forçadas a ter e a ignorar o ser. É preciso que os psicólogos actuem para desfazer estes noivos padrões de convivência social e celebração do 14 de Fevereiro", apelou.

A data, segundo o psicopedagogo, Alcides Chivangu, é apara celebrar o amor verdadeiro, genuíno e de partilha e não o amor em troca dos bens materiais tal qual está a banalização da data. O especialista deplora o sentimento capitalista que se instaurou nas relações pessoais, pelo que apela a promoção de uma educação de qualidade assente nos princípios cívicos e morais.

"Não é bom andar em caminhos enviesados e ater-se apenas em bens materiais. Temos que dar um basta nestas políticas e acções que não são virtuosas", apelou.

A juventude angolana está sem modelos

O comportamento manifestado pelos jovens por ocasião das celebrações do dia dos namorados reflecte a ausência de valores e a falta de modelos de sociedade. Os guardiões da moral esquecem-se do que é valor e moral em detrimento dos bens materiais.

"Os jovens precisam de modelos. Nós vemos senhores mais velhos que deviam ser exemplo a irem à discotecas, a gastarem rios de dinheiros em fanfarras, vemos senhores a gastaram e a usurparem-se do erário sem a consciência da rés-pública".

Há uma estreita relação entre o aumento do custo de vida em Angola e a prostituição seja de esquina ou de luxo. Tudo se faz pelo dinheiro, pelo exibicionismo, pela aparente vida folgada e bem-estar social exibido nas redes sociais.

O encarecimento do custo de vida em Angola tem forçado jovens a venderem o corpo para se auto-sustentarem. Uma situação que não se justifica, mas que, segundo o Missionário Francisco da Costa, é um facto e precisa de uma urgente intervenção das autoridades, pois que nem com salário mínimo nacional é possível garantir o sustento das famílias.

"O custo de vida está tão elevado que as pessoas não sabem a quem e onde recorrer e, aproveito a ocasião para apelar aos governantes deste país para que olhem para as populações de nível económico e financeiro baixo".

É uma vergonha, diz a radialista Delfina Muto, para quem em Angola o corpo da tornou-se numa “quitanda”, onde o vale tudo se sobrepõe aos mais sagrados valores e padrões morais nesta sociedade onde o custo de vida aumentou significativamente.

"É tanta mediocridade que chegamos a tão-baixo nível em que se mata a fome por tudo, nada mais é valorizado. E ainda se vê uma certa vaidade de pessoas que investem no corpo para depois 'comercializar'."

Para além de modelos, a juventude angolana precisa de soluções. É preciso que o Estado angolano de resposta às necessidades dos jovens.

"Devemos aplaudir a força da juventude, mas eles precisam de orientadores. Acredito que com uma educação de qualidade com valores estampados nos letreiros das nossas mentes, com programas educativos a partir da comunicação social os jovens por si vão caminhar nos destinos que a nação deseja", referiu o psicopedagogo Alcides Chivangu.

É preciso uma intervenção de todas as forças vivas da sociedade e à todos os níveis para se pôr fim aos desvios dos padrões cívicos e morais na sociedade onde se pensa que o material tem mais valor que o moral, de tal sorte que a celebração de um dia de troca de mimos, manifestação de afectos e ternura entre casais de namorados apaixonados é confundido com uma data de exibicionismo, de consumismo e mercantilista, defende a radialista Delfina Muto.

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