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Juristas dizem que pedido de PR à presidente do Tribunal de Contas revela "crise grave" na justiça


Tribunal Supremo, Angola
Tribunal Supremo, Angola

Abertura do ano judicial prevista para amanhã, 1, adiada sem nova data

Especialistas angolanos em Direito consideram que o convite feito pelo Chefe de Estado à presidente do Tribunal de Contas (TC), Exalgina Gamboa, para se demitir do cargo destapa o véu da “crise grave” no sistema de justiça.

Juristas comentam pedido de João Lourenço para demissão da presidente do Tribunal de Contas – 2:56
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O pedido acontece dois dias antes da cerimónia da abertura do ano judicial, que devia acontecer amanhã, 1, e que foi adiada para uma data não precisada, como confirmou à VOA uma fonte do Sindicato dos Técnicos de Justiça e Funcionários Administrativos do Procuradoria-Geral da República, que, entretanto, se escusou a revelar os motivos.

O jurista Albano Pedro diz que a atitude do Presidente João Lourenço “sinaliza uma “interferência nos poderes do judiciário” e sustenta que a figura visada não está, por lei, obrigada a aceitar o convite.

Pedro evoca a independência dos juízes e desafia o Conselho Superior da Magistratura Judicial a averiguar as denúncias alegadas “por ser o órgão com competência para disciplinar os juízes e até fazer cessar as funções”.

Aquele jurista também defende que a Associação dos Juristas Angolanos deve igualmente se pronunciar “para demonstrar imparcialidade e equidistância nas suas análises”.

“Porque se não o fizer vai demonstrar a tal guerra de cartéis entre o Poder Executivo e o Poder Judiciário”, conclui Albano Pedro.

O advogado Vicente Pongolola considera, por sua vez , que o Presidente da República deve proceder da mesma forma em relação ao presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo , a quem são imputados vários casos de corrupção e de peculato.

“O caminho não pode ser outro, tem de ser o mesmo”, defende aquele jurista para quem a juíza Exalgina Gamboa não devia esperar pelo convite para renunciar ao cargo, a julgar pelas denúncias que pendem sobre ela, enquanto responsável máxima do TC.

“A impressão de veicula de cá para fora é de que nós não somos sérios”, sustenta Pongolola, advertindo para a eventualidade de casos do género desencorajarem o investimento estrangeiro.

Adiamento da cerimónia da abertura do ano judicial

Entretanto, a cerimónia da abertura do ano judicial, que devia acontecer na quarta-feira, 1, foi adiada para uma data não precisada, confirmou à VOA uma fonte do Sindicato dos Técnicos de Justiça e Funcionários Administrativos do Procuradoria-Geral da República, que se escusou a revelar os motivos.

O acto, que devia ocorrer sob o lema “Pela efectivação da autonomia administrativa e financeira, para fortalecer e eficiência e a eficácia dos tribunais”, devia ser presidido pelo Presidente da República.

Ontem, no post insólito publicado na sua página no Facebook em que a Presidência da República informou que João Lourenço convidou a presidente do TC a apresentar o seu pedido de demissão, aquele órgão destacou que o Chefe de Estado, "tem vindo a acompanhar com alta preocupação as referidas ocorrências e torna público que, na defesa dos mais altos interesses do Estado, após rigorosa ponderação, considerou que a veneranda juíza conselheira presidente do Tribunal de Contas deixou de ter condições para o exercício das suas funções e convidou-a no passado dia 21 de Fevereiro a renunciar ao seu mandato, o que não aconteceu até à presente data".

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A Presidência justificou a decisão com "as relevantes ocorrências respeitantes ao funcionamento do Tribunal de Contas, órgão supremo de fiscalização da legalidade das finanças públicas, as quais são susceptíveis de comprometer o normal funcionamento deste importante órgão do poder judicial e manchar o bom nome da justiça angolana".

Mais tarde, o Jornal de Angola, citando a agência Lusa, revelou que Exalgina Gamboa pediu "jubilação antecipada" por "razões de saúde".

O pedido, no entanto, segundo a mesma fonte, foi enviado depois da publicação do post da Presidência hoje.

Refira-se que, nos últimos meses, a presidente do TC tem sido alvo de várias denúncias sobre a forma para tem gasto o dinheiro do tribunal, inclusive através do próprio filho.

O investigador Rafael Marques, no seu blog Makaangola.com, tem feito fortes denúncias e enviado cartas à Procuradoria Geral da República e à Assembleia Nacional para investigação.

Numa das suas primeiras reportagens, o blog mostrou como Gamboa gastou cerca de quatro milhões de dólares do tribunal para comprar mobílias de luxo que colocou na sua casa no Condomínio Malunga, no Talatona, Luanda.

O Maka Angola "endereçou, a 14 de Outubro de 2022, a denúncia ao procurador-geral da República, o ora demissionário general Hélder Pitta Groz, para se procedesse à fiscalização e responsabilização dos actos da presidente do Tribunal de Contas", mas diz que "até à data, não obteve resposta".

Por seu lado, a 7 de Novembro, a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, comunicou àquele blog que “tomou boa nota sobre o teor” da denúncia e desencadeou os procedimentos legais para investigar o caso.

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