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Imprensa: Jornalistas guineenses dizem que falta quase tudo e que ninguém quer falar


Salário não chega a 100 euros mensais e nem sempre é pago, lamenta jornalista que reconhece as dificuldades os órgãos

Tal como acontece em muitos países com um mercado publicitário pobre e reduzido, na Guiné-Bissau os profissionais da imprensa descrevem um cenário onde há falta de tudo.

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Desde a falta de recursos básicos, como equipamentos e internet, a salários muito baixos, aliados ao medo das pessoas em emitir opiniões, que ficam por conta dos políticos, quando lhes interessa.

Geraldo Camara, jornalista guineense
Geraldo Camara, jornalista guineense

Geraldo Suleimane Camará, jornalista da Rádio Regional “Leste FM”, baseada em Gabú, diz que até para enviar uma peça há dificuldades em conseguir a internet, por razões financeiras, associadas à carência de equipamentos.

“Falta de materiais e meios financeiros me coloca em posição de desconfiança para com o entrevistado, que precisa ouvir o conteúdo das suas declarações. E também mesmo querendo enviar as minhas peças tenho que solicitar a outra pessoa para ajudar na obtenção da internet”, lamenta Camará.

Mais a Sul, em Buba, Mamandim Indjai, da Rádio Papagaio, aponta para “falta de meios de transportes para deslocações às tabancas e rádios gravadores para reportagens”.

Mamandim Indjai, jornalista guineense
Mamandim Indjai, jornalista guineense

“Eu uso mais o meu telefone para as gravações”, acrescenta aquele jornalista que, tal como outros, enfrenta a difícil realidade dos profissionais da imprensa guineense.

Este cenário não é diferente na capital Bissau, como diz Epifania Fernandes, do jornal “O Democrata”.

“Às vezes, num computador são três ou mais pessoas para fazer fila, conforme a chegada, a não ser que tenhas o teu computador pessoal e gravador. Não podemos culpar os órgãos, tendo em conta as dificuldades financeiras que enfrentam”, afirma a jornalista, que aponta ainda o baixo salário dos jornalistas que também afecta o seu desempenho.

“Para não dizer miserável, mas nem a 100 euros chega. Também não é pago regularmente. Às vezes, o órgão fica três ou quatro meses sem poder pagar o salário. Contudo, é compreensível devido às dificuldades que atravessam”, acrescenta Fernandes.

Epifania Fernandes, jornalista guineense
Epifania Fernandes, jornalista guineense

E, contrariamente ao que diz a Constituição da República, o acesso às fontes de informação tem sido outro dos obstáculos ao exercício da profissão na Guiné-Bissau.

Mamandim Indjai diz ser “uma aberração total por parte das autoridades locais”.

Por exemplo, explica, “várias vezes, as nossas fontes têm que pedir o anonimato, e em algumas delegacias para que os responsáveis possam prestar declarações tem que ser mediante uma autorização do ministro da tutela, e isto não favorece o exercício livre da liberdade de expressão e de imprensa".

Epifania Fernandes, alinha pelo mesmo diapasão, dizendo que “ao se chegar uma aldeia é um problema ter a pessoa disponível para dar um esclarecimento sobre um assunto, e se o faz é por conveniência partidária".

Geraldo Suleimane Camará sublinha que a população prefere denunciar os factos, sob a condição de anonimato por temer retaliações e por isso, “é mais fácil obter informação junto às fontes partidárias, sobretudo quando lhes convém".

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