O secretário de Estado da Ordem Pública da Guiné-Bissau desafiou o coordenador da Frente Popular (FP), Armando Lona, a mostrar pessoas que terão sido espancadas na sequência da sua prisão durante a marcha de 18 de maio reprimida pela polícia.
José Carlos Monteiro também assegura que a FP não enviou "qualquer carta ao Ministério do Interior” a comunicar a realização da marcha que, segundo a organização, pretendia "resgatar a República", e acusou a Frente de pretender incendiar o Mercado de Bandim.
“Desafiamos as organizações que fazem parte desse grupo de cidadãos a apresentar uma cópia da carta entregue ao Ministério do Interior”, disse Monteiro, quem justificou a ação do Ministério do Interior "para garantir a estabilidade e a ordem pública”, enfatizou Monteiro.
O governante também pediu à FP e outros ativistas que apresentem provas do espancamento dos detidos.
“Estamos a desafiá-los a trazer aqui aquela senhora que diz ter sido vítima de espancamento no Ministério, mas até hoje ninguém apareceu”, sublinhou José Carlos Monteiro em referência à divulgação de imagens de uma senhora nas redes sociais que teria sido espancada pelas autoridades.
O secretário de Estado da Ordem Pública apontou o dedo à FP que "tinha outras intenções" e disse ter enviado ao Ministério Público "todas as provas" que apontam para "outras intenções" da manifestação.
Monteiro acusou a FP de pretenter "deitar fogo ao mercado de Bandim", em Bissau.
Denúncias da Frente Popular
Na terça-feira, 28, o coordenador da FP, Armando Lona, que esteve detido durante 10 dias depois de liderar uma marcha pacífica em Bissau, disse que os ativistas presos foram submetidos a sessões de torturas por agentes “bem identificados” e filmados com o propósito de apresentar a alguém ou grupo de pessoas.
“Os atos de espancamentos foram filmados e várias testemunhas convergiram nesse sentido e percebemos que esse ato foi cometido por um grupo bem identificado, porque nem todo o ministério do Interior estava ao corrente disso. Aconteceu nas instalações daquela instituição estatal, mas ao serviço de um grupo ou de alguém, através de um grupo e uma ordem superior que é contrária à lei", disse Lona em conferência de imprensa na Casa dos Direitos.
O ativista acrescentou que a responsabilidade destes atos devem ser apuradas pelos titulares do ministério do Interior e todos quanto participaram naquele ato.
Ele reiterou que a Constituição dá aos cidadãos a liberdade de se manifestarem quando bem entenderem, e lamentou que "50 anos depois da luta pela libertação nacional, os filhos da Guiné-Bissau continuam a ser colocados numa prisão desumana e torturados de forma brutal a serviço de uma pessoa, alegando sempre ordem superior".
No dia 18, a polícia deteve 93 manifestantes que participavam numa marcha pacífica em Bissau e libertou 84 no dia seguinte.
Os restantes nove só foram colocados em liberdade por ordem do tribunal que lhes impôs a medida de Termo de Identidade e Residência até responderem em juizo.
Refira-se que, em entrevista à Voz da América no dia 24, a presidente da Associação Juvenil para a Promoção dos Direitos Humanos, Mansata Mónica Barbosa Silá, relatou cenas de violência contra os presos.
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