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Fome bate à porta de cada vez mais cabo-verdianos


Bairro Jamaica, arredores da cidade da Praia, Cabo Verde
Bairro Jamaica, arredores da cidade da Praia, Cabo Verde

Algumas estruturas de cariz social, nomeadamente o Banco Alimentar, consideram que os números nesta altura podem ser superiores, tendo em conta a quantidade de pessoas que a cada dia procuram apoios e ajuda alimentar.

Em Cabo Verde, aumenta o número de pessoas que procuram ajuda junto do Banco Alimentar contra a fome e de outras instituições de cariz social, enquanto Governo diz estar a trabalhar afincadamente para erradicar a pobreza extrema em 2026.

Dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) divulgados no ano passado indicam que a taxa da pobreza no arquipélago aumentou de 26% para 31,7% em 2020, enquanto estima-se que a pobreza extrema passou de 12,7% para 13,1%.

Algumas estruturas de cariz social, nomeadamente o Banco Alimentar, consideram que os números nesta altura podem ser superiores, tendo em conta a quantidade de pessoas que a cada dia procuram apoios e ajuda alimentar.

Na zona de Achada de São Filipe, subúrbio da capital, a Voz da América conversou com Atanásio Fortes, natural da ilha de São Vicente, mas que vive há 32 anos na cidade da Praia.

Este cidadão desempregado, que vive de bicos pontuais, diz que muitas vezes não consegue levar a panela ao lume, neste caso, não consegue "fintar a fome".

“Falta comida e muitas vezes peço apoio de algumas pessoas para conseguir um quilo de arroz… já passei fome na Praia e não tenho vergonha de dizer”, conta Fortes, que diz ter solicitado ajuda à Câmara Municipal, onde foi registado no cadastro social, mas até agora ainda não foi contemplado.

O cenário também é relatado por outras tantas pessoas que batem à porta do Banco Alimentar, de acordo com a presidente daquela organização social.

Ana Hoppfer Almada fala de uma campanha de recolha de alimentos realizada no passado fim-de-semana na qual foram conseguidos três mil quilos de alimentos, mas ela considera que o banco necessita de mais ajudas para poder responder a outros tantos pedidos que chegam à Instituição.

“Nós estamos com pessoas a dizer que estão com ´fome´ e o banco alimentar não tem capacidade de resposta para toda essa gente… são 350 famílias permanentes que apoiamos e outras 300pontuais nesta altura… o problema é que a situação tende a piorar o aumento da percentagem de pessoas com necessidades alimentares agudas”, diz Almada.

Ela considera que esta situação já exige um esforço ao mais alto nível, com capacidade para dar respostas às grandes necessidades.

Na ilha de São Vicente, a coordenadora da OMCV, que colabora com o Banco Alimentar, afirma que a situação de muitas famílias é preocupante.

Fátima Balbina Lima considera que os poderes públicos devem "reforçar os mecanismos de assistência às famílias, implementar mecanismos mais sólidos e objectivos".

No Orçamento de Estado de 2023 e visando ajudar a mitigar o impacto da crise, o Governo cabo-verdiano reservou cerca de 12 por cento do bolo para áreas sociais, o equivalente a 8,8 milhões de contos cabo-verdianos.

Das medidas constam oacordo de manutenção do preço da farinha de trigo, mais 3 mil beneficiários contemplados com a pensão social, isenção do IVA na água e electricidade para pessoas inscritas no cadastro social, reforço da cantina escolar e contratos-programa com algumas associações sociais.

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