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Fala África: “Minha missão é mostrar, explicar, e fazer com que as pessoas possam aderir à arte”, Cristóvão Júnior


Artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior
Artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior

Cristóvão Júnior, de 27 anos, é um artista plástico que desde 2009 cria obras com a intenção de fazer com que as pessoas acordem ou levantem-se, ou mucai em chiutê, (língua local).

Os quadros do artista também mostram a evolução do dia-a-dia do Homem, bem como a beleza do espaço em pinturas abstratas e fotografias.

Cristóvão tem um ateliê e uma galeria em Chimoio, Moçambique, e já fez várias exposições individuais e coletivas. Uma das mais importantes foi a que fez este ano no Museu Nacional de Arte, em Maputo, com a obra “Beira Isolada,” durante a quarta edição da Semana Africana, que decorreu de 25 de Maio a 31 de Junho.

Fala África: “A minha narrativa é de fazer com que as pessoas acordem para melhorar, e quiçá mudar o mundo,” Cristóvão Júnior
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Em entrevista ao Fala África VOA, Cristóvão destacou duas obras da sua coleção “Rainbow:” “Spread Love” e “No Communication.” Ele também falou sobre as suas técnicas de pintura, bem como a inspiração para os seus trabalhos.

Obra Spread Love do artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior, coleção
Obra Spread Love do artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior, coleção

Sobre o quadro “Spread Love,” o artista contou que escolheu esta obra porque ele faz um exercício diário de transformação individual.

“O objetivo desta transformação é amar o próximo, amar a mim mesmo, para fazer com que a minha sociedade seja um lugar melhor. Eu sou muito a favor de coisas boas, de energias positivas e do amor. Eu escolhi a obra “Spread Love” para apelar às pessoas a amar o próximo, apelar às pessoas a transformarem os seus dias em dias melhores, que só assim nós poderemos ser seres melhores”.

Cristóvão começou a sua jornada artística desenhando na areia por volta dos nove anos. Depois passou para o papel. Aos 13 anos, começou a usar tintas e aprendeu as técnicas de surrealismo e abstrato com um amigo.

Com o passar do tempo foi desenvolvendo o cubismo e evoluindo com as suas técnicas. Hoje os seus trabalhos usam vários tipos de materiais em uma mesma tela, como corante, tintas acrílicas, lápis, gesso, marcadores, etc.

A sua primeira exposição individual foi em 2018 no Inter-Hotel em Chimoio e a sua maior exposição individual até hoje foi “Mucai”, exibida em 2019, durante duas semanas, em uma das salas do edifício da empresa Vista Construções.

Atualmente, Cristóvão pratica o pontilhismo, uma técnica que se utiliza de pontos de cor desenhados lado a lado e tem como finalidade formar uma imagem. O artista explicou que o pontilhismo lhe ajuda a explorar o seu lado pacífico e a praticar a paciência. A intenção é criar uma identidade e passar esta mensagem para a sociedade.

Obra De Olho No Futuro do artista plástico moçambicano Cristóvão
Obra De Olho No Futuro do artista plástico moçambicano Cristóvão

“Eu me considero um autodidata porque nunca fui para uma escola de arte para aprender o que venho fazendo. Sou muito curioso. Agora eu faço mais trabalhos em relação às minhas emoções: sentir e explicar ou expressar numa obra de arte.”

O artista plástico explicou que a sua inspiração vem do desejo de ver um mundo melhor, um mundo mais positivo. “Considerando que estou no Chimoio, não há muito conhecimento sobre as artes plásticas, então eu tenho uma missão que é de mostrar, explicar, e de fazer com que as pessoas possam aderir às artes hoje amanhã e sempre”.

Obra "No Communication" do artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior, coleção "Rainbow"
Obra "No Communication" do artista plástico moçambicano Cristóvão Júnior, coleção "Rainbow"

A segunda obra destacada por Cristóvão é “No Communication,” que também faz parte da coleção “Rainbow,” criada logo após a destruição que o ciclone Idai provocou em Moçambique em 2019.

"O propósito da coleção era de iluminar o país, as pessoas que estiveram de luto, que estiveram na escuridão, numa tristeza interior e exterior... Por mais que o ciclone Idai tenha assolado o país, nós não podemos desistir, nós não vamos desistir. Foi ali que apareceu a inspiração de trazer na obra uma imagem de um homem sentado num banco, numa escuridão, mas o homem é iluminado pelas cores que fazem parte do seu corpo, que são energias positivas e as cores do arco-íris, com um telefone na mão com o fio perdido".

Cristóvão Júnior continua: "O fio está perdido porque é um elo perdido entre ele, o homem, a imagem na obra e os seus entes queridos. O preto do fundo realça o luto que o país viveu, o sofrimento, a escuridão e uma posição de tristeza e esperança. O homem está com a mão na cabeça, a cabeça inclinada, no sentido de: Será que ainda voltarei a falar com meus familiares? Será que vamos passar por outra fase melhor?"

O artista revelou que tem como meta para este ano a produção de 70 obras. Ele já tem 35 quadros prontos e está trabalhando em uma nova coleção. Cristóvão já fez uma exposição em Março deste ano no Chimoio e espera fazer mais uma até o final do ano intitulada “Mucai Summer Exhibition,” que serão exposições de curto prazo e pinturas ao vivo.

Para 2023, ele quer lançar o projeto “Expo Mucai,” exposições que vão destacar o trabalho de artistas locais. A intenção de Cristóvão é usar a sua galeria e atelier para proporcionar um espaço para exposições coletivas, e exposições individuais de outros artistas, já que não há galerias e casas de cultura na cidade. “Só assim poderei ajudá-los e poderei aumentar a visibilidade do Chimoio, a nível local, nacional e internacional”.

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