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Especialistas alertam para perigo de concentração da economia moçambicana na indústria extrativa


Projecto de Gás da Sasol, Temane, Inhambane, Moçambique,
Projecto de Gás da Sasol, Temane, Inhambane, Moçambique,

Perigo é maior com a instabilidade militar no centro e norte do país

Economistas moçambicanos alertam que a menos que sejam feitas reformas significativas urgentes, a economia do país corre sérios riscos por depender excessivamente do gás, para além da instabilidade militar nas regiões centro e norte e de raptos de empresários no sul de Moçambique.

O problema da chamada “doença holandesa em Moçambique” vem sendo debatido desde que surgiram os primeiros alaridos sobre as receitas do sector extractivo e sempre foi levantada a necessidade da diversificação da economia.

A economista e pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP) Leila Constantino diz constituir um enorme risco o facto de a economia moçambicana passar por uma alta dependência relativamente ao gás e realça que o Governo deve apostar na diversificação do tecido económico.

Constantino avança que Moçambique tem vantagens competitivas no sector agrícola, que pode empregar grande parte da população e no turismo, mas também um grande potencial em termos de desenvolvimento, bem como no agro-processamento.

Para aquela economista, uma diversificação da economia "passaria por altos investimentos e enfoque nestes sectores, em vez de os esforços estarem centrados apenas no sector extractivo, o que representa um alto risco para a economia".

Esta semana, a consultora Fitch Solutions alertou também que a não ser que sejam feitas reformas que encorajem a distribuição dos benefícios do gás por toda a economia, Moçambique poderá enfrentar os mesmos problemas que limitaram o crescimento em países como Angola e Nigéria durante a recente queda do preço das matérias-primas.

O economista Eduardo Sengo corrobora a mesma tese e diz que Moçambique deve apostar em sectores onde tem vantagens competitivas e alguma exclusividade sob o ponto de vista de abrangência.

Ele realça que "esses sectores são a agricultura, o turismo, transportes e infraestruturas, cujo crescimento permite uma maior participação da população e uma maior adição de valor à economia”, mas, alerta que “o mais importante é saber como é que estes sectores podem crescer, sabendo-se que estão reféns de políticas de investimento e de acesso ao mercado e infraestruturas".

Por seu lado, para o economista António Francisco, não é possível diversificar a economia num país com problemas de instabilidade militar nas regiões centro e norte e de raptos de empresários no sul do país.

"No sul", sublinha, "é um terror o rapto de empresários e este assunto nunca foi resolvido."

Francisco é da opinião que a única maneira de diversificar é o Estado permitir o papel da economia privada para que funcione de maneira mais dinâmica.

"Eu acho que há uma excessiva concentração do próprio Estado na economia, toda a dinâmica é muito centralizadora, e este é o dilema em que Moçambique se encontra”, considera aquele economista.

Ele recorda que Moçambique esteve, durante cerca de 30 anos, refém da ajuda externa "e agora quer ficar dependente de recursos naturais mais valiosos, mas não tem mecanismos para proporcionar apoio ao sector produtivo privado".

António Francisco refere, por exemplo, que nos últimos cinco anos, mesmo antes da Covid-19, "nós tivemos uma situação de paralisia, de constrangimento e de crise económica provocada pelo Estado, pelos próprios gestores de recursos públicos".

Refira-se, entretanto, que as autoridades governamentais dizem que tudo está a ser feito no sentido de garantir que o sector privado funcione tranquilamente.

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