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Dirigentes do PAIGC denunciam manobras com abertura de processos pelo partido


Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, 27 novembro 2019, Bissau.
Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, 27 novembro 2019, Bissau.

Vice-presidente Cipriano Cassamá e antigo primeiro-ministro, Artur Silva, convocados pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização

O vice-presidente do PAIGC e presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, e o antigo primeiro-ministro e membro do Bureau Político, Artur Silva, foram convocados pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização do partido para depor em processos, no momento em que aumentam as críticas à liderança de Domingos Simões Pereira, ausente do país após a segunda volta das eleições presidencias em dezembro de 2019.

Nos círculos políticos guineenses fala-se em purgas no partido dos libertadores, mas até agora a direcção do PAIGC ou o Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização não se pronunciaram sobre os posicionamentos de Cassamá e Silva.

Cipriano Cassmá, presidente da Assembleia Nacional Popular, Guiné-Bissau
Cipriano Cassmá, presidente da Assembleia Nacional Popular, Guiné-Bissau

Cipriano Cassamá diz que a sua convocação decorre de “denúncia feita por militantes e estruturas do partido”.

“Não pode deixar de causar estranheza e preocupação que após ameaças públicas de sanções, num momento extremamente delicado do país e da vida interna do partido, em que militantes, responsáveis, dirigentes e estruturas sociopolíticas se multiplicam em esforços para revitalizar e relançar as atividades políticas, alguns camaradas persistam na lógica da intriga, conflito e crispação interna”, diz o comunicado do gabinete de Cipriano Cassamá com data de 3 de dezembro, mas divulgado nesta sexta-feira, 4.

Cassamá, que disse ter sido convocado para depor ontem, sem qualquer “nota de culpa”, diz suspeitar que o “alegado processo disciplinar tem por finalidade suspender e sancionar o vice-presidente”.

Desta forma, ele ficaria impedido de dirigir reuniões e orgãos do partido, nomeadamente o Bureau Político e o Comité Central.

O também presidente do Parlamento termina a nota pedindo aos dirigentes e militantes a se manterem serenos e “focados na coesão interna porque os superiores interesses do partido irão, como sempre, acabar por prevalecer sobre as agendas pessoais”.

Artur Silva também

Também com data de ontem, 3 de dezembro, o antigo primeiro-ministro Artur Silva revela ter sido ouvido pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização no dia 1.

Artur Silva, antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau
Artur Silva, antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau

“O instrutor do processo comunicou-me que me fora levantado um processo disciplinar pelo facto de ter sido nomeado primeiro-ministro e também por ter aceitado o cargo de secretário-seral da Agência de Gestão e Cooperação entre o Senegal e a Guiné-Bissau (AGC) em Janeiro e Maio de 2018, respectivamente”, escreve Silva.

Na interpretação do antigo Chefe de Governo, “tudo leva a crer, que ao posicionar-me como uma das vozes inconformadas com a não convocação dos órgãos estatutários do PAIGC devido ao actual estado de funcionamento das diferentes estruturas do PAIGC, pode estar na origem desta súbita e inexplicável audição, que tem por alegado fundamento, acontecimentos ocorridos há quase 3 anos, com a intenção de condicionar a minha liberdade de opinião e participação activa da vida do partido”.

Artur Silva diz estranhar que “esta notificação surja logo após um grupo de dirigentes terem subscrito uma petição com o objectivo de se convocarem as reuniões dos órgãos estatutários do PAIGC, com objectivo de simplesmente se analisar a vida actual e futura do partido após a decisão final ditada pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que pôs fim ao contencioso das eleições presidenciais”.

Membro do Bureau Político e do Comité Central do PAIGC, Silva sublinha que “as ameaças proferidas através das redes sociais já estão em marcha, na medida em que vários dirigentes estão a ser notificados pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização para serem ouvidos”.

Tais ameaças, segundo observadores guineenses, podem apontar na direcção do presidente do partido Domingos Simões Pereira que, há menos de dois meses, disse “estar a receber mensagens para “possíveis actos de traição por parte de dirigentes” do PAIGC.

A VOA tentou entrar em contacto com o presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, mas sem sucesso.

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