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Crise humanitária pode agravar-se este ano, alertam organizações não governamentais em Cabo Delgado


Deslocados de Quitunda, Palma, Cabo Delgado, assistidos por VAMOZ, Moçambique
Deslocados de Quitunda, Palma, Cabo Delgado, assistidos por VAMOZ, Moçambique

Em Dezembro, várias organizações apresentaram um “quadro vermelho” para a ajuda humanitária para este ano por falta de recursos visando continuar o apoio humanitário aos deslocados em abrigos temporários e ou em bairros de reassentamentos.

Organizações humanitárias que ajudam deslocados do terrorismo em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, alertam para o agravamento da crise humanitária este ano devido à falta de fundos e doações para continuar a distribuir alimentos a milhares pessoas em abrigos e bairros de reassentamento.

Por outro lado, um analista político diz que há doações que nunca chegaram aos necessitados, embora admite que a guerra na Ucrânia tenha desviado as atenções.

Após uma reunião de coordenação em Dezembro, várias organizações apresentaram um “quadro vermelho” para a ajuda humanitária este ano por falta de recursos para continuar o apoio humanitário aos deslocados em abrigos temporários e ou em bairros de reassentamentos.

“Poucas organizações mostram-se disponíveis para continuar o apoio humanitário, então isto leva-nos a crer que 2023 será um ano de grandes dificuldades na assistência aos necessitados”, disse à VOA Manuel Nota, coordenador da Cáritas Diocesana, o braço humanitário da igreja Católica, que apoia deslocados em Cabo Delgado.

Falta de ajuda "obriga" regresso a zonas inseguras

Aquele responsável anotou que “continua a incerteza” da ajuda humanitária porque os mapas apresentados na reunião de coordenação das organizações “quase que não tem nada para ajuda humanitária neste ano”.

O activista social disse que como consequência da “fraqueza na assistência humanitária”, milhares de deslocados estão a regressar aos distritos de origem, pese embora as condições de segurança “não estão ainda repostas” e quando são verificados novos ataques de grupos rebeldes.

Em declarações à VOA, alguns lideres de campos de deslocados asseguraram que desde o inicio de 2022 a chegada dos donativos começou a variar, havendo vezes em que esperaram quatro meses pela chegada de uma cesta básica, cujos alimentos podiam cobria apenas um mês.

“Desde Outubro não chegou doação e estamos mal, com fome. As vezes distribuíam um mês sim, outro mês não, mas ultimamente falham essas datas e ficamos desesperados”, disse à VOA um dos lideres do campo de deslocados em Metuge, na condição de anonimato por temer represálias.

Outro líder em Impire afirmou que os deslocados naquele bairro de reassentamento estavam há dois meses sem receber o donativo, depois de no ano passado terem apenas recebido quatro vezes.

Guerra na Ucrânia e desvio de ajuda

“Quando eles chegam para distribuir os nomes que constam da lista, dão um saco de arroz e feijão, e depois ficamos três meses sem receber, e é isso que esta a criar problemas”, acrescentou um dos responsáveis, frisando que em Novembro e Dezembro a doação não chegou a milhares de deslocados.

Para o analista político Wilker Dias, o défice de ajuda humanitária começou a ser mais visível em Cabo Delgado com o inicio da guerra na Ucrânia, o que supõe que as doações foram direccionadas aquele conflito e outras guerras, mas desvios de doações e ingerência na distribuição da pouca comida que chega podem estar a causar problemas.

“Há doações que não chegam aos deslocados”, reconheceu Wilker Dias, que acompanha o conflito em Cabo Delgado, e a pouca “doação que chega é desviada por alguns líderes comunitários”, que gerem as listas dos beneficiários.

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada promovida por um grupo rebelde, com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que já provocaram um milhão de deslocados, segundo ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.

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