Cerca de 70 pessoas morreram no sul da Nigéria, no início deste mês, após terem consumido uma bebida tradicional. As autoridades baniram a sua circulação, mas os produtores e consumidores dizem que a medida não ameaça apenas a bebida, mas todo um estilo de vida.
Trata-se de ogogoro que os nigerianos já consumiam décadas antes das bebidas produzidas em fábricas e colocadas em circuitos comerciais. É feita de seiva de palma e é muitas vezes destilada clandestinamente, longe do olhar das autoridades.
Mas após a morte de 70 pessoas em Rivers State, sul da Nigéria, e outras 20, em Ondo, no sudoeste, a entidade reguladora de alimentos e bebidas proibiu o seu consumo.
A medida irritou a Rosaline Iseviaka, que diz consumir não para se embebedar, mas como uma forma de cura.
"Agora estou doente e não tenho dinheiro para ir ao hospital, deram medicamento tradicional, mas deveria beber ogogoro … será que devo esperar pelo Governo federal para vir tratar-me? Não posso esperar, não”, reclama Rosaline.
Até o banimento, Samuel Egedegbe produzia ogogoro no vilarejo de Okwagbe, Delta State. Dava continuidade a uma tradição familiar. Aprendeu a fazer a bebida com os seus pais.
Egedegbe diz que usava ingredientes aprovados pelas autoridades para fabricar o seu ogogoro. Para ele, as recentes mortes foram causadas pelos destiladores que acrescentam metanol para tornar a bebida mais forte.
“O Governo federal deveria ter isso em conta, porque o verdadeiro ogogoro não mata, não faz mal a ninguém”, opina Egedegbe, que preside a maior união de destiladores no Delta State, e receia perder o rendimento se o Governo não levantar o banimento.
“Se nós deixarmos de fazer ogogoro, o que será de nós? Será que o Governo federal vai financiar outro negócio? Foi isto que nos fez crescer, e alimentamos os nossos filhos com isto (…) é impossível parar com isto”, desabafa Egedegbe, que tem 67 anos e diz que bebe todas as manhãs para se manter saudável.