A greve dos camionistas, no Brasil, perde forças, após dez dias de interrupções, nas principais estradas do país e nas unidades da Petrobrás. Muitos estão cansados, e outros mais resistentes insistem em permanecer com o movimento.
Mas aumenta a violência nos trechos. Depois de camiões que tentaram furar os bloqueios nas estradas serem apedrejados pelos mais radicais, um camionista morreu atingido na cabeça por uma pedra arremessada no para-brisa do veículo dele.
José Batistela, de 70 anos, passava por uma manifestação na BR-364, que estava liberada para o tráfego, em Vilhena, cidade localizada no estado de Rondônia. Ele foi socorrido, mas não resistiu.
Maioria incomodada
As forças de segurança actuam para desobstruir todas as estradas do país. O líder do protesto foi detido, segundo o ministro da Segurança, Raul Jungmann. Há ainda, no país, 197 pontos de concentração de manifestantes.
Os brasileiros que até poucos dias apoiavam o movimento após sentirem os reflexos da greve, o desabastecimento nas cidades, se sentem incomodados.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha aponta que 87% de brasileiros apoiam a paralisação de camionistas.
Apesar disso, o mesmo percentual - 87% - não quer pagar a conta dos subsídios ao diesel. Segundo o Datafolha, o protesto afectou directamente a vida de praticamente metade da população brasileira.
A maioria dos ouvidos na pesquisa (97%) acredita que o presidente Michel Temer demorou para negociar com os camionistas.
Contornos políticos
Para o especialista em segurança pública, Luis Flávio Sapori, a greve dos camonistas já apresenta tons políticos.
“O movimento dos caminhoneiros (camionistas) extrapolou as reivindicações corporativas e agora adquiriu caráter político-ideológico e tem o apoio de muitos brasileiros descrentes dos políticos e da democracia. Tem muita gente apostando na convulsão social como se isso fosse mudar o Brasil. Ninguém ganha quando uma sociedade entra num estágio de desordem generalizada. Na verdade todos perdem. As sociedades mais civilizadas e que mais avançaram na qualidade de vida da sua população conseguiram isso com o constante aprimoramento da ordem pública e da democracia”, disse.
O país não precisa piorar mais para se reerguer, ressalta o especialista.
“A mudança não parte do quanto pior melhor. Ao contrário, quanto melhor for melhor será e a democracia é a melhor maneira para o Brasil se tornar uma sociedade mais justa e menos violenta. A segurança pública no Brasil tem jeito assim como a política. A lava Jato, por exemplo, conseguiu prender corruptos da elite econômica e política o que era impensável há dez anos”, ressaltou.
Ele ainda completa.
“Há muito ainda o que fazer ainda na mudança da legislação e na prevenção social, mas o caminho a ser seguido já está delineado. Em suma, vale ainda continuar apostando na democracia e no Brasil”.