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Cabo Verde: Governo e oposição trocam acusações sobre mudança de política em relação ao Marrocos


Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva (esq), e primeiro-ministro do Marrocos, Aziz Akhannouch (dir), Rabat, Marrocos
Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva (esq), e primeiro-ministro do Marrocos, Aziz Akhannouch (dir), Rabat, Marrocos

A visita que o primeiro ministro de Cabo Verde realiza desde terça-feira até hoje, 12, ao Marrocos continua a provocar trocas de acusações entre o Governo e o PAICV, na oposição.

Na quinta-feira, 11, o presidente do PAICV, Rui Semedo, criticou o reconhecimento territorial de Marrocos por ser, segundo ele, uma "mudança profunda" e sem consulta, face aos compromissos assumidos internacionalmente.

Em resposta, nesta sexta-feira, 12, o ministro dos negócios Estrangeiros Rui Figueiredo Soares, disse em comunicado que "foi com estupefação que o Governo tomou conhecimento das declarações proferidas (...) pelo presidente do PAICV porque “o congelamento das relações com a República Árabe Sarauí Democrática, aconteceu no tempo do último Governo do PAICV", liderado pelo actual presidente da República José Maria Neves.

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No início da visita, o Chefe do Governo, Ulisses Correia e Silva, falou "numa nova era nas relações entre os dois países… em primeiro lugar pelo reconhecimento da integralidade do território marroquino incluindo Sara Ocidental”.

O cientista político Aquilino Varela não vê com bons olhos o posicionamento assumido pelo Governo considera que tal decisão pode ter sido influenciada pelo novo alinhamento de certos parceiros internacionais sobre o Sahara Ocidental, bem como de interesses do arquipélago em obter maiores contrapartidas na relação com o reino magrebino.

“É bem provável que o próprio realinhamento dos Estados Unidos, um reposicionamento diferente de outros parceiros tenha influenciado … ao nível da educação, ensino superior, ciência, há um incremento forte de Cabo Verde junto do Marrocos… há agora uma procura de transformação energética a partir das renováveis a partir do Reino, talvez sejam esses pressupostos”, afirma Varela.

Para o diplomata na reforma e antigo embaixador na ONU, Fernando Wanhon, a mudança de posição dos Estados na política externa constitui algo natural, mas, diz, resta saber o que isso pode trazer em termos de ganhos concretos para o país.

“Se Cabo Verde tem uma estratégia de desenvolvimento das suas relações com Marrocos, esta posição é coerente e facilitadora dessas relações… agora basta saber se assim vai ser efectivamente no quadro daquilo que o país poderá almejar, eu não sei exactamente quais são as estratégias de Cabo Verde nestas relações, mas tenho um pouco de reservas quanto às posições do Marrocos, tendo em conta que muitas vezes são mais intenções do que ações”, diz Wanhon.

Manuel Amante da Rosa, outro diplomata na reforma que conhece bem o dossier relativo à República Árabe Sarauí Democrática, considera que este novo posicioanamento deve ao forte lobbi feito pelo Governo marroquino nos últimos anos.

“Por aquilo que eu tenho seguido de longos anos nas relações internacionais, não vejo grandes contrapartidas que possam daqui a cinco ou 10 anos dizer...olha valeu a pena nós termos mudado de posição na questão do Sahara Ocidental”, aponta Rosa.

Durante a visita, além de vários encontros de Correia e Silva, os dois governos assinaram acordos de isenção de vistos entre os dois países em passaportes ordinários, o memorando de entendimento nos domínios de actividades da juventude e mulher, e a convenção para evitar a dupla tributação e a prevenção da evasão fiscal.

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