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Cabo Delgado: Cinco anos depois dos primeiros ataques, conflito tem novas dimensões


Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, Mozambique
Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, Mozambique

Há um consenso entre especialistas, Governo e aqueles que se preocupam com Cabo Delgado de que a parte militar não é a única questão que deve ser accionada para resolver o conflito em Cabo Delgado

As autoridades moçambicanas dizem que, cinco anos depois dos primeiros ataques jihadistas a Cabo Delgado, os insurgentes estão hoje mais fragilizados e que a situação naquela província está a melhorar, mas analistas discordam, porque, por exemplo, os atacantes ainda se movimentam para outras províncias sem serem bloqueados.

Os ataques terroristas à província de Cabo Delgado começaram há cinco anos e o Chefe do Estado-maior das Forças Armadas Moçambicanas, Joaquim Mangrasse, diz que o exército está a fazer tudo para devolver a tranquilidade à população.

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Por seu lado, o comandante-geral da Polícia, Bernardino Rafael, garante que os insurgentes estão hoje mais fragilizados e fragmentados.

O primeiro ataque jihadista a alvos militares e civis aconteceu no distrito de Mocímboa da Praia, a 5 de Outubro de 2017, e passados cinco anos, Joaquim Mangrasse, afirma que Moçambique ainda se debate com este fenómeno, mas sublinha que na frente de combate os avanços do exército e seus aliados do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) são visíveis.

"As populações estão a regressar às suas zonas de origem, as instituições estão a funcionar e isto é um bom sinal", considerou o oficial do exército moçambicano.

Entretanto, o jornalista e analista político Fernando Lima diz haver claramente uma melhoria da situação, mas sublinha que ainda não se pode considerar estável porque continua a haver ataques no sul de Cabo Delgado, nomeadamente nas zonas de Macomia e Nangade.

Para aquele analista político, o facto de os jihadistas terem tido a capacidade de se movimentarem sem serem bloqueados, de Cabo Delgado para Nampula, há algumas semanas, mostra a instabilidade porque não é só o problema dos ataques, é o problema das pessoas que fogem das suas aldeias e procuram refúgio nas sedes distritais ou na capital provincial, o que causa desestabilização".

O chefe da polícia moçambicana diz que vão existir ataques esporádicos, "mas o que nós estamos a dizer é que é preciso impedir que os terroristas tenham uma zona dominada por eles".

Contudo, o jornalista e analista político Alexandre Chiure afirma que já se provou que os terroristas não precisam de bases ou quartel para fazerem os seus ataques e admite que haja alguma melhoria da situação em Cabo Delgado, mas não sabe até que ponto isso se irá manter.

Ele realça que "eu cheguei a acreditar que Mocímboa da Praia, Ibo, Macomia ou Nangade pudessem ser consideradas zonas libertadas, mas fiquei surpreendido quando essas regiões foram alvos de novos ataques terroristas".

Refira-se que existe quase um consenso entre os especialistas, Governo e aqueles que se preocupam com Cabo Delgado de que a parte militar não é a única questão que deve ser accionada para resolver o conflito.

Para Fernando Lima tem de ser uma acção multidisciplinar "e eu acho que isso também está a faltar, não obstante as autoridades moçambicanas reconhecerem que a solução não é militar, na prática, eu acho que essa componente é a que está a ser mais utilizada".

Lima refere ainda que "os programas económicos e de trabalharem com as comunidades, aquilo que se chama programa de desradicalização, programas que têm a ver com as desconstruções de um certo islamismo radical, parece que existem esses programas não são tão abrangentes quanto deveriam ser, e isso desequilibra a componente militar".

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