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Cabo Delgado: Cólera e terrorismo, um cocktail letal em Ancuabe


Ancuabe, Cabo Delgado
Ancuabe, Cabo Delgado

Um novo surto de cólera, que matou cinco pessoas esta semana, e o reaparecimento da movimentação de terroristas voltaram a fragilizar as condições de sobrevivência da população em Ancuabe, distrito a sul da província moçambicana de Cabo Delgado, disseram à VOA nesta quarta-feira, 31, vários moradores locais.

Ancuabe é um dos cinco distritos da província de Cabo Delgado afetados pela atual vaga deste surto de cólera, que atinge Moçambique desde Outubro de 2023, e onde já não eram vistos terroristas a circular.

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“A situação está mal, está grave. Na segunda-feira, enterramos aquele velho de Simbolongo; depois de fazer a última cerimónia, na família todos estão com diarreias”, disse à VOA Sulemane Abibo, morador da aldeia de Sunate, também conhecida por Silva Macua.

“Até ontem (terça-feira, 30) 12 pessoas estavam de baixa, lá em Metoro, mas da mesma família”, acrescentou Sulemane Abibo, adiantando que outras quatro pessoas morreram na aldeia Nango, sem terem conseguido procurar serviços de saúde por a aldeia não ter um centro de tratamento da doença.

Outro morador disse que a cólera tinha atingido, esta semana, quase todas as aldeias de Ancuabe, preocupando a população que luta para a sua sobrevivência, sem acesso à água potável e alimentos.

Presença terrorista

Muitos, disse o alfaiate que pediu anonimato, recorrem a cursos de rios sazonais e poços tradicionais para obter água, mas agora receiam sair por conta de nova movimentação de grupos terroristas no sul da província, que voltaram a decapitar duas pessoas no sábado, 27, em Metuge.

“A cólera está em todo Ancuabe. Não há aldeia não atingida, onde se possa refugiar. Nas aldeias mais isoladas, as pessoas ficam sem tratamento e acabam morendo, e para piorar a população diz que nos hospitais matam pessoas”, disse.

Na segunda-feira, 29, a Policia moçambicana anunciou a captura no distrito de Ancuabe de um suspeito de fazer vigilância a favor dos insurgentes, que atuam em Cabo Delgado, há seis anos, com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O suspeito terá sido flagrado em cima de uma árvore a controlar a movimentação das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e da população. Este episódio, contaram vários moradores, retraiu a população de frequentar campos agrícolas, por temer ataques do grupo armado.

Na sexta-feira, 26, um grupo de, pelo menos, 60 terroristas foi foi visto pela população a atravessar a Estrada Nacional número 1, entre as aldeias Nanlia e Empíri, no distrito de Metuge.

Aumentam casos de cólera

Entre 1 de Outubro do ano passado e 30 de Janeiro de 2024 foram registados 10.589 casos de cólera, com 25 mortos e 7.778 internados devido a doença em todo o país.

O número de mortes não subiu – oficialmente não há registo de óbitos há três semanas -, por as mortes de Ancuabe terem ocorrido fora dos hospitais, disse uma fonte do Ministério de Saúde moçambicano à VOA.

Nos últimos seis dias, cerca de 300 novos casos foram registados em Moçambique, quase uma média diária de 50 casos, segundo o mais recente boletim sobre a progressão da doença da Direção Nacional de Saúde Pública, divulgado a 30 de Janeiro.

Os surtos da cólera tendem a seguir o ciclo anual da estação chuvosa e afetam desproporcionalmente as comunidades, que não têm acesso ao saneamento básico e a água limpa, evidenciando o défice dos serviços básicos.

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