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Brigada da Literatura deve incentivar à criação literária, dizem escritores e activistas


Biblioteca em Angola
Biblioteca em Angola

A restruturação das políticas de incentivo à leitura e da promoção da literatura deve ser uma das prioridades do Estado caso queira incentivar o surgimento de novos escritores e bons leitores em Angola.

A preocupação foi manifestada em entrevista à Voz da América em Luanda por escritores e activistas cívicos por ocasião do dia da Cultura Nacional assinalado na sexta-feira 8 de Janeiro.

Estas reflexões surgem, por outro lado, por altura da eleição de novos corpos sociais na Brigada Jovem de Literatura Angolana. O pleito que confirmou João Mwanza na Presidência desta organização artística-literária, ocorreu neste sábado, 9 de Janeiro na cidade capital.

Brigada da Literatura deve incentivar à criação literária, dizem escritores e activistas
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Arante Kivuvu activista e um dos mentores do projecto Biblioteca Despadronizada, construída debaixo de uma pedonal no município de Viana, na capital de Angola, falando sobre a promoção da leitura em Angola referiu que o Estado deve rever as suas estratégias de incentivo à leitura e estar aliado às instituições como a Brigada Jovem de Literatura Angolana.

Para o activista, é preciso desfazer-se das conotações segundo as quais os jovens angolanos não leem uma vez que com o projecto de criação de Bibliotecas Despadronizadas, construídas debaixo de pedonais os factos mostram o contrário.

“A Despadronizada trouxe uma realidade contrária. Nós notamos que a juventude gosta de ler, mas infelizmente não tem os meios, que são os livros. Nós por dia recebemos perto de setenta a cem pessoas e são jovens que não têm livros, porque são caros. Desconstruímos a ideia de que os jovens não leem. Os jovens lêem sim. Infelizmente não têm possibilidades de aquisição, porque os livros são caros. Estamos numa situação de vulnerabilidade económica em que uma família entre comprar um livro de 10 mil ou 5 mil kwanzas pensa duas vezes por que também tem de comprar um saco de arroz, um saco de fuba e isto afugenta o gosto pela leitura. Mas nós temos provas e estatísticas de que os jovens lêem".

Arante afirma por outro lado que a BJLA esta deve promover a escrita e incentivar o hábito de leitura.

“Existe uma Brigada Jovem de Literatura Angola que até hoje não visitou a Despadronizada. Enquanto o Estado não rever as suas políticas de incentivo à leitura e as instituições ligadas a promoção da literatura devem estar unidos para estarmos todos alinhados no mesmo diapasão”, disse o activista para quem “os livros devem chegar até às escolas públicas que regra geral não têm biblioteca e consequentemente livros, o que dificulta o incentivo à leitura”.

Sobre a falta de bibliotecas nas escolas, Dago Nível, activista e um dos mentores do projecto de criação da Biblioteca Despadronizada refere que esta realidade é o reflexo do Estado e da sociedade, onde o Governo não tem preocupação em relação a emancipação intelectual dos cidadãos.

“Se não temos bibliotecas nas escolas e universidade fica difícil incentivar as pessoas a lerem, porque a partir destes locais que devemos incutir na mente dos jovens sobre a importância da leitura para o desenvolvimento do país e para as necessárias mudanças de paradigmas sociais”.

O hábito de leitura também passa pelo entendimento de quem governa sobre a importância de termos em cada uma das nossas escolas pelos menos uma biblioteca onde se podem encontrar os livros necessários para que as pessoas possam “abrir as mentes”.

Dago Nível critica por outro lado o papel pouco expressivo de instituições como a Brigada Jovem da Literatura Angolana.

“Conheço algumas pessoas que são membros da Brigada Jovem de Literatura, mas como instituição não se faz sentir, não me representa. É como se não existisse para mim e certamente para muitas outras pessoas.

O activista fala por outro lado da conotação política da Brigada Jovem da Literatura e dos livros que promove, que na sua opinião, não são libertadores.

“Não é literatura libertadora. Não é o que se precisa para que as pessoas entendam o contexto em que vivemos. Podem fazer muito mais, podem renovar-se, podem reinventar-se porque parece que estão em desuso, atrasados no tempo e desactualizados”, considerou.

O escritor e candidato derrotado à Presidência da Brigada Jovem da Literatura Angolana, Gelson Neto, entende que para promoção da literatura os órgãos de Comunicação Social têm responsabilidades acrescidas.

Sobre o custo do livro, era um dos seus projectos discutir com as instituições do Estado alguns termos para a redução do preço.

Sobre o número reduzido de biblioteca, Gelson Neto, pensa que a BJLA está em condições de mudar o paradigma.

“Um povo que lê é um povo, uma nação próspera. É chegada a hora dos políticos e das políticas governativas começarem a olhar para o livro como um instrumento de combate à fome e à pobreza e ao obscurantismo da população e, desta forma fazermos crescer a nossa nação”.

O presidente da Brigada Jovem da Literatura Angolana eleito no último sábado, 9 de Janeiro em Luanda, diz ter vários projectos para mudança de paradigma desta organização e para uma maior valorização dos novos escritores, do livro e da literatura em geral.

A ideia, segundo João Mwanza, é expandir o âmbito de actuação da Brigada Jovem de Literatura Angolana.

“Temos convénio com várias instituições nacionais e internacionais”, disse o escritor para quem se precisa dar maior valor à literatura no país. “Precisamos estimular cada vez mais isto através dos órgãos de comunicação social para aparecermos e fazer valer a literatura nacional”.

Sobre a promoção da literatura na imprensa, o activista Dago Nível, reprova a desvalorização da literatura pela imprensa nacional. “A nossa imprensa parece muito letárgica naquilo que é importante e o que é importante é a literatura, a emancipação intelectual, o empoderamento das pessoas para que elas possam pensar e produzir conhecimento através daquilo que leem. A imprensa tem feito alguma coisa e pode fazer mais”, considerou.

Sobre a politização da Brigada Jovem da Literatura Angolana, João Mwanza diz que durante o seu mandato vai trabalhar para que esta conotação deixe de existir fazendo valer apenas o seu estatuto.

“Queremos trazer a brigada para as pessoas e com ela os livros. Temos projectos para negociar a com instituições sobre o preço do livro e à semelhança do que acontece lá fora incentivar doação de livros para que todos tenham acesso aos mesmos”, referiu.

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