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Bispos moçambicanos tristes com "pessoas indefesas mortas, feridas e abusadas" em Cabo Delgado


Dom João Carlos e Dom Inácio Lucas, bispos moçambicanos
Dom João Carlos e Dom Inácio Lucas, bispos moçambicanos

Dizem haver interesses de vária natureza e origem, "nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos”

Os bispos católicos moçambicanos dizem estar com o “coração cheio de tristeza”, devido à situação trágica por que passa a população de Cabo Delgado, particularmente “com a insegurança alimentar e fome que afectam outras populações do país".

A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), reunida na sexta-feira, 16, revelou em comunicado que “um dos motivos que empurram os jovens ao serviço da insurgência e doutras práticas criminosas em Moçambique é o tamanho desespero, a ausência de esperança no seio destes".

Dom João Carlos Hatoa Nunes, porta-voz da CEF, disse a jornalistas em Maputo, que os líderes católicos deploram e condenam todos os actos de barbárie cometidos e reiteram que nada justifica a violência: “Nem a situação difícil, de falta de uma perspetiva colectiva, partilhada como uma nação, nem ressentimentos, nem intolerância ou interesses de parte, de natureza religiosa, política ou económica, devem desviar-nos, como um povo para o caminho de qualquer tipo de insurgência".

“Em Cabo Delgado pessoas indefesas são mortas, feridas e abusadas. Elas vêem seus bens pilhados, a intimidade dos seus lares violada, suas casas destruídas e cadáveres de seus familiares profanados. São obrigadas a abandonarem a terra que os viu nascer e onde estão sepultados os seus antepassados. Estes nossos concidadãos, a maioria mulheres e crianças, são empurrados para o precipício da insegurança e do medo”, afirmou o porta-voz ao ler o comunicado, que destaca não haver "indicações claras de que a breve trecho haverá superação das causas que alimentam este conflito”.

“Este estado de coisas faz crescer e consolidar a percepção de que por de trás deste conflito há interesses de vária natureza e origem, nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos”, que em lugar de serem postos ao serviço das comunidades locais e tornarem-se fonte de sustento e de desenvolvimento, com a construção de infraestruturas, serviços básicos, oportunidade de trabalho, “são subtraídos, na total falta de transparência, alimentando a revolta e o rancor, particularmente no coração dos jovens, e tornando-se fonte de descontentamento, de divisão e de luto”.

A CEM manifesta a “sua total solidariedade e proximidade com os mais fracos, necessitados e vulneráveis, estes que caíram no leito de um desespero sem precedentes”.

Ao lembrarem que a Igreja Católica em Moçambique tem como missão colaborar para o bem da Nação, apontando os perigos e soluções”, os bispos “pedem a quem de direito que acabe com estes males que enfermam a sociedade moçambicana”.

Recorde-se que a CEM reúne-se duas vezes ao ano para analisar o trabalho da Igreja e fazer uma análise da situação do país.

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