A Amnistia Internacional (AI) criticou a repressão das marchas em homenagem ao rapper moçambicano Azagaia em várias cidades de Moçambique neste sábado, 10, e classificou as detenções arbitrárias, o uso de gás lacrimogéneo e a agressão brutal a manifestantes pacíficos como uma violação do direito à liberdade de reunião.
“A resposta dura da polícia moçambicana a estas manifestações pacíficas, incluindo espancar os manifestantes com bastões, causando-lhes ferimentos, é um acto ultrajante de policiamento infeliz contra estes manifestantes indefesos", diz o diretor adjunto da AI para a África Oriental e Austral.
Emerlynn Gil acrescenta não haver "dúvida de que a polícia pretendia reprimir as manifestações, com a intenção de menosprezar o legado de Azagaia em Moçambique".
A AI vai mais longe e diz que as acções da polícia, de espancar manifestantes segundo vídeos disponibilizados à organização e divulgados nas redes sociais, constituem "um padrão perturbador de tácticas imprudentes e ilegais contra as pessoas durante os protestos".
Gil defende que “a polícia deve abster-se de atacar os manifestantes, incluindo prendê-los arbitrariamente e de se envolver em violência retaliatória contra os manifestantes pacíficos".
Aquela organização não governamental insta as autoridades a "investigarem rapidamente a polícia que prendeu pessoas em Maputo e as espancou e garantir que sejam responsabilizadas por violar os direitos humanos dos manifestantes, incluindo o direito internacional”.
A AI diz que sete manifestantes e organizadores foram presos e detidos em Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala e Nampula e a polícia "está a chamar outras (pessoas) a quem ameaça pelo seu envolvimento nos protestos".
A reacção da AI surge depois de, como a VOA noticiou antes, a polícia ter reprimido hoje várias marchas pacíficas de homenagem ao rapper Azagaia, falecido no dia 9.
Na Beira, o presidente da Assembleia Municipal, Albano Carige foi detido, juntamente com mais 11 manifestantes e um ficou ferido.
Fontes da VOA dizem que mais de uma dezena foram detidos na capital Maputo, onde quatro pessoas ficaram feridas.
Em Chimoio, capital da província de Manica, a polícia impediu qualquer ajuntamento de pessoas.
O "símbolo do desassossego"
O músico e activista social Azagaia morreu no passado dia 9 em casa.
Azagaia, cujo nome de baptismo era Edson da Luz, era bastante crítico de políticos no poder, tendo-se tornado popular pela interpretação de temas de intervenção social como “as mentiras da verdade”.
Activistas, rappers e fãs reagiram com tristeza à notícia da sua morte e encheram as suas páginas nas redes sociais com homenagens ao "símbolo do desassossego", cujas músicas ganharam repercussão nos demais países africanos de língua portuguesa.
O seu funeral, realizado no dia 14, levou à rua uma multidão de pessoas e a polícia também usou gás lacrimogénio.
A Human Rights Watch (HRW) pediu uma investigação ao uso de gás lacrimogéneo durante o cortejo fúnebre.
“As autoridades moçambicanas devem investigar rápida e imparcialmente o uso de gás lacrimogéneo pela polícia no cortejo fúnebre de um famoso ‘rapper’ no dia 14 de Março de 2023, em Maputo”, pediu em comunicado na altura aquela organização internacional de defesa dos direitos humanos.
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